Uma das particularidades mais interessantes da sétima arte é a sua diversidade. As possibilidades são inúmeras dentro de um mesmo contexto. A subdivisão de gêneros, por exemplo, é a demonstração da elevada capacidade de combinações numa mesma perspectiva. Foi em virtude dessa quebra com a rigidez dos gêneros que produções mais diversificadas foram ganhando espaço nas últimas duas décadas. Atualmente o público clama por mais filmes como A Morte Te Dá Parabéns (2017), A Noite do Jogo (2018) e Um Pequeno Favor (2018) por sua capacidade de conter mais de uma vertente num só trabalho.
Um outro aspecto que tem mudado é o olhar do espectador para produções trashs. As décadas de 1980 e 1990 foram o auge desse subgênero, principalmente quando ele acontece sob um formato de longa-metragem de terror. Franquias como O Mestre dos Brinquedos (1989 – 2018) são a expressão do cinema b de horror da época. Sharknado (2013 – 2018) é a maior referência da atualidade que comprova o sucesso dessa expressão e ajuda a elaborar uma imagem mais clara do que essa vertente representa.
A mais recente produção brasileira é justamente resultado dessas possibilidades de misturar o terror com algum outro gênero. Dentro de uma lógica narrativa confusa e despreocupada com o sentido – característica presente em muitas películas do cinema b – Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29). O longa é uma mescla do que há de mais esdrúxulo no cinema trash e obtém como resultado um produto abominável.
Após um incidente sem explicação no banheiro de um colégio, a trupe dos caça-assombrações é contratada pelo diretor Nogueira (Sikêra Júnior) para investigar a suposta presença sobrenatural na escola. Os atrapalhados caçadores enxergam no chamado uma oportunidade de fazer sua carreira deslanchar, mas logo vão perceber que sua estada no colégio Isaac Newton será a experiência mais aterrorizante de suas vidas. Agora Fred (Léo Lins), Jack (Danilo Gentili), Caroline (Dani Calabresa) e Túlio (Murilo Couto) terão que provar sua real capacidade de enfrentar o sobrenatural num embate sangrento com a Loira do Banheiro (Pietra Quintela).
Diante de mais de 100 minutos de filme, o longa dirigido por Fabrício Bittar (Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, de 2017) deixa o espectador atônito com a sua capacidade de promover a estupidez. A narrativa é um emaranhado de piadas escrachadas em meio a previsíveis cenas ruins de tensão, as quais são repletas de litros e mais litros de sangue. A película parece uma coleção de esquetes malfeitas de comédia gravadas aleatoriamente que, em um dado momento, alguém decidiu juntar para fazer um filme. Se o primeiro longa-metragem do diretor já representava uma imagem caricatural de uma comédia péssima, seu novo trabalho mostra que ele consegue fazer ainda pior.
Ao lado da direção sem personalidade, o roteiro segue uma linha de desconexão. A narrativa traz muitas referências – de Os Caça-Fantasmas (1984) até os esquetes do Porta dos Fundos – o que acaba se perdendo pelo excesso. O que poderia ter sido uma película de terror orquestrada com nuances de comédia escrachada se torna um verdadeiro espetáculo dos maiores horrores do subgênero. O roteiro de Bittar, Danilo Gentili e André Catarinacho lembra uma costura de trashs como A Geladeira Diabólica (1991), O Ataque da Lasanha Gigante (1999), O Pneu Assassino (2010) e Chillerama (2011). Em meio as cenas mais toscas possíveis (sempre repletas de sangue), essa mistura desforme tem incansáveis tiradas cômicas batidas como uma tentativa falha de sustentar a trama e manter a ideia de mistura de gêneros.
Quanto o elenco do filme, é fácil resumi-los como uma extensão dos contratados da SBT. Danilo Gentili e companhia encabeçam esse suplício em forma de longa com seus trejeitos canastrões. As cenas mais parecem parte do The Noite (talk show de Gentili) do que um produto cinematográfico. Graças a esse conjunto amorfo, a história sobre uma das maiores lendas urbanas do país se perdeu em meio aos excessos, desleixos e absurdos dessa produção. Até mesmo uma pegadinha feita por programas da SBT consegue ser mais assustadora e melhor elaborada do que essa película. Existem muitas produções precárias e outras definitivamente ruins no universo do horror, mas essa conseguiu alcançar um outro patamar. O seu desdém ao promover uma infinidade de idiotices ultrapassa todos os limites do ridículo até mesmo para os trash. No fim, Exterminadores do Além não passa de uma piada sem graça do programa de Gentili e o seu resultado é tão ruim e ofensivo quanto o apresentador.
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