A gente tem uma falsa impressão a respeito de como a lógica de Hollywood funciona. Muitas vezes achamos que os maus passos da carreira de um ator ocorrem em função exclusiva de suas péssimas escolhas. Não que isso não seja determinante em alguns casos, mas em outros os “descaminhos” ocorrem pela falta de oferta de bons trabalhos, ainda que o ator em questão seja muito competente. É como a lógica das coisas funciona. Os atores são divididos em classes e claro que os melhores roteiros vão para os astros do momento e do primeiro time, os demais, ainda que possam ser mais talentosos que os anteriores ficam com o que resta e o que resta nem sempre é tão bom.
Esse talvez seja o caso de Aaron Eckhart, que, lançado na maturidade ao estrelato com Erin Brokovich: Uma Mulher de Talento, na pele do interesse amoroso da personagem de Julia Roberts, ganhou grande popularidade mesmo através de Batman: O Cavaleiro das Trevas quando viveu o trágico vilão Duas Caras. Eckhart não é capaz de mobilizar grandes plateias como um Johnny Depp, Brad Pitt ou Tom Cruise da vida, tampouco é figura do momento como Michael Fassbender ou Chris Pratt. Ao ator resta, ocasionalmente, fazer títulos duvidosos como Invasão a Casa Branca, Frankenstein: Entre Anjos e Demônios e Perseguição Implacável. Alguém tem que fazer esse trabalho “sujo”. Por vezes, pode aparecer um trabalho como Reencontrando a Felicidade, de John Cameron Mitchell, ou o ainda inédito Sangue pela Glória, mas são muito poucos.
Dominação é outra forma de desperdiçar Eckhart solenemente com uma trama que não convence o espectador em momento algum. No filme, Eckhart vive um homem cuja habilidade é entrar no subconsciente de vítimas de possessão para libertá-las das forças malignas. Com clara inspiração em A Origem de Christopher Nolan, e, claro, O Exorcista, Dominação é um filme que propõe ser um longa de terror, porém em momento algum colabora com sua formação enquanto tal.
Dirigido de maneira preguiçosa e pouco ativa por Brad Peyton (de Terremoto: A Falha de San Andreas e Viagem 2: A Ilha Misteriosa, ou seja, péssimas credenciais), resta ao longa apoiar-se no roteiro rasteiro de Ronnie Christensen, que se apropria de uma série de chavões hollywoodianos. Ao invés de servirem ao desenvolvimento da trama, as muletas do roteiro de Dominação parecem ora acenar fracassadamente para continuações, ora se apoiar dramaticamente em clichês do dramalhão mais raso possível em termos de construção de personagem e desenvolvimento dos seus relacionamentos.
Das frases de efeito do protagonista à personagem que revela uma insuspeita faceta na última cena do filme, Dominação exagera na canastrice. O longa consegue ser ainda mais “cafajeste” quando se apoia na autorreferência e traz à memória do espectador a sombra inevitável de O Exorcista, através da piada batida sobre a sopa de ervilha (sério?). Em cenas mais dramáticas e que pressupõe uma atmosfera sinistra, Dominação ainda é capaz de gerar risos involuntários, como quando após uma violenta possessão vemos uma súbita agressão realizada por um garoto e, posteriormente, o filme corta para uma cena em que o personagem de Eckhart é introduzido ao público numa boate ao som de um hit do momento. Ou seja, o longa já começa escancarando suas péssimas escolhas.
Não dá para culpar Aaron Eckhart pela mediocridade de Dominação, que ainda tem no seu elenco a holandesa Carice van Houten (de Game of Thrones), num papel mais clichê possível (o da mãe do menino vítima da possessão demoníaca que deixa transparecer uma tensão sexual com o protagonista do longa). Bem, mais ingrata ainda é a função da indicada ao Oscar Catalina Sandino Moreno (Maria Cheia de Graça) como uma enviada pelo Vaticano. A culpa pela canastrice de Dominação vem daquilo que está fora do domínio do ator e que, inclusive, o relega a produções pobres como esta ao invés de aproveitar todo o seu potencial dramático. Enfim, é como as coisas ainda funcionam em Hollywood.
Assista ao trailer do filme: