Quando um filme é genérico é sempre mais complicado saber por onde começar a falar sobre ele. No entanto, Confissões de Uma Garota Excluída, em todo o seu padrão de comédia romântica adolescente, tenta trazer novos horizontes discursivos inserido nesta estrutura já tão conhecida. Baseado no livro Confissões de Uma Garota Excluída, Mal-amada e Um Pouco Dramática, da Thalita Rebouças, é possível perceber aqui um avanço na desconstrução de alguns argumentos sexistas, tão recorrentes do gênero. Pelo menos uma busca para realizar tal intento.
É assim que é trazida a história de Tetê (Klara Castanho), uma menina do ensino médio que não se encaixa em sua escola e não tem amigos. No entanto, ela precisa mudar de colégio e tem a oportunidade de começar sua vida social do zero. Dentro desta lógica do enredo, vemos Tetê entrando em uma dinâmica muito perigosa de cumprir requisitos de uma sociedade machista para se sentir incluída por seus pares. O típico momento nerd de óculos, que se arruma e vai para a festa da turma acontece, as relações se complicando pelas escolhas fáceis feitas pela protagonista também. Mas, ao mesmo tempo, há um olhar crítico para esta necessidade incessante em ser padrão de beleza e comportamento.
Para demarcar esta procura por mandar uma mensagem positiva para o público teen, existem diálogos bem frisados e didáticos para contar ao espectador que ali existem 800 mil clichês, porém com uma roupagem teoricamente progressista. Nestas idas e vindas, entre caminhos comuns, de comédias dos anos 1980/1990, como a típica briga das populares versus a estranha da classe, e a quebra destas costumeiras trajetórias, como na diversidade presente nos amigos da personagem principal, o longa cria a sua marca central: agradar uma quantidade grande da plateia.
Ainda assim, apesar de ficar no meio do caminho, esta estratégia de manutenção de estilos antigos juntamente com temas mais contemporâneos, faz com que, ao fim da sessão, o filme seja prazeroso de alguma forma. No entanto, é preciso ressaltar que esta tentativa de evocar assuntos em voga em 2021 chega a ser artificial e também abre espaço para furos no roteiro. Ao pôr um dos melhores amigos de Tête, o Zeca (Marcus Bessa), como homossexual, os roteiristas esqueceram somente de amarrar a trama do garoto. Todo o conflito dele com o pai fica um tanto solto e sem que se acompanhe o desenvolvimento da problemática entre os dois.
Fica sabido que a solução ocorreu em algum momento que não foi apresentado para quem assiste, o que gera desconforto de que aquele menino está ali apenas como um token, um caminho para ser dito que há sim representação, Mas, que representação é essa? E o mesmo pode ser dito de Davi (Gabriel Lima), que passa quase a exibição inteira sem contar com ações mais ativas. No final das contas, a dupla de Bffs de Tetê ficam planificados, pois terminam a história do mesmo jeito que começaram e estão ali apenas como apoio do papel principal.
Esta característica é um pouco frustrante, pois o trio tem uma dinâmica forte. Eles conseguem, em silêncio, criar empatia e são carismáticos. No entanto, faltou, ao certo, uma preparação de elenco mais efetiva. O tempo dos diálogos é bastante dilatado e o colorido do texto é pobre. As rítmicas tonais são sempre as mesmas, deixando algumas cenas até entediantes. Inclusive, todos os atores jovens se encaixam nesta categoria monocórdica, menos a Castanho que até se destaca por sua inteligência cênica.
Aproveitando as suas indicações de marcas, Klara Castanho consegue imprimir um trabalho de corpo sutil, no qual se nota um florescimento de sua personagem. Além disso, as intenções de texto revelam que a atriz compreendeu as motivações e sentimentos de Tetê de uma maneira profunda, ainda que a narrativa seja rasa. Desta maneira, é perceptível que ela foi além do que estava sendo proposto e buscou construir seu papel a partir de uma perspectiva extratextual. Outro ponto positivo no elenco, é o núcleo da família de Tetê.
Por contar com uma gama de intérpretes mais experientes, como Stepan Nercessian, Julia Rabello e Rosane Goffman, de alguma maneira, as falas pobres e estereotipadas são trabalhadas, ficando orgânicas e fluídas. Um exemplo é uma sequência expositiva, na qual um integrante do grupo afirma que o avô (Stepan) já sabe que a neta (Klara) não gosta de chocolate. O jogo entre os artistas acaba diluindo esta exposição tão forçada.
Assim, entre perdas e ganhos, tédios e instantes divertidos, Confissões de Uma Garota Excluída se equilibra ali, na corda bamba, ficando em uma espécie de média raspando. De um lado, há um vislumbre de dias melhoras para produtos midiáticos teens, do outro, uma repetição de situações antiquadas e uma ausência de mão mais segura para amarrar a própria concepção dos autores.
Direção: Bruno Garotti
Elenco: Klara Castanho, Gabriel Lima, Marcus Bessa, Júlia Rabello, Stepan Nercessian
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