Como Seria Se...?

Crítica: Como Seria Se…? (Netflix)

3.5

A fórmula do “e se?”, já vista em produções como De Caso Com o Acaso ou Melinda e Melinda, retorna aqui, nesta nova comédia romântica da Netflix. Na maioria dos aspectos que as suas antecessoras falharam, Como Seria Se…? consegue acertar e manter o espectador conectado com ambas das suas histórias apresentadas durante toda a projeção. Apesar de possuir alguns defeitos, como encerrar abruptamente a narrativa, o resultado geral do filme é positivo, ficando até um pouco acima da média.

O maior defeito de obras que possuem múltiplas histórias é que falta um equilíbrio qualitativo. Ao inserir várias tramas e personagens, alguns enredos são mais desenvolvidos do que outros. No que se refere ao plot principal, esse fator não é aparece em Como Seria Se…? Dividindo o espaço entre as duas possibilidades de trajetória de Natalie (Lili Reinhart), o espectador acompanha a sua vida em uma grande bifurcação sua. De um lado, temos a perspectiva dela se ela tivesse descoberto uma gravidez na noite de sua formatura na graduação e, do outro, se o teste tivesse dado negativo.

A partir daí, são criadas marcas visuais para distinguir as duas realidades, o que é bem útil para guiar o espectador. Natalie grávida é preenchida de melancolia, por isso tons de azul bebê estão espalhados pelo ecrã. Já a Natalie sem neném, que vai para Los Angeles para tentar a carreira de desenhista, tem cores rosadas e alaranjadas nela e ao seu redor, exalando um clima de juventude. São escolhas um tanto clichês, mas funcionam porque estão casadas também com a caracterização de Natalie e na interpretação de Lili.

Seja pelo corte de cabelo, pelas vestes, pelo tom de voz e movimentos corporais feitos por Lili, a composição de uma mesma personagem é modificada pelos caminhos diferentes que ela segue. A transformação interna e externa de Natalie é tão palpável, que são quase duas mulheres distintas, a partir do ponto de virada em seu caminho. A direção de Wanuri Kahiu (Rafiki), juntamente com a fotografia de Alan Caudilo (A Faxineira), conduz que assiste a se aproximar das duas tramas e a sentir as distinções dos dois mundos e todas as particularidades deles.

Através da luz e de enquadramentos cada dinâmica é estabelecida até o momento derradeiro que as bifurcações meio que se encontram e as “Natalies” encerram as suas peripécias. Neste momento em que o tom passa a ser similar novamente, fica nítida a consciência da equipe no que tangem às seleções escolhidas para cada universo. Além disso,  a chave aqui é que, no final das contas, o longa-metragem deseja passar que não importam quais vão ser as decisões e as mudanças feitas pelas pessoas, mas sim como elas lidam com isso e consegue imprimir isto em bom pedaço da história.

Como Seria Se...?

Durante a projeção, o público pode se deparar com o receio de algum dos destinos de Natalie ser melhor do que o outro ou que surja alguma lição de moral tola, como “filhos são bons” ou o contrário: “não tenha filhos”. Contudo, o que importa de verdade é a protagonista e como ela lida com seus desejos e sonhos, a partir dos desafios que lhe são apresentados. Analisando estas características da obra, ela tem um resultado total positivo, porém, ainda que, no geral, seja uma sessão que prende a atenção e se mostre cuidadosa, alguns detalhes reduzem a sua qualidade.

Principalmente em seu terceiro ato e seu desfecho, alguns pactos que foram estabelecidos com o espectador, como o corte de cabelo de “Natalie azul” ser mais curto, são quebrados. Por este detalhe ser modificado mais próximo do final, pode ser um pouco confuso por alguns minutos para algumas pessoas. Esta derrapada na última meia hora do filme também se dá pelas soluções repentinas e fáceis para problemas muito grandes para Natalie e uma pequena perda da personalidade de cada uma delas.

Assim, o longa pode frustrar um pouco, pois a elaborações dos conflitos e dos ambientes que cercam Natalie ganham tempo para serem elaborados, porém as resoluções ocorrem rapidamente, como se, de repente, todos os obstáculos que eram tão grandes para ela desaparecessem. Além disso, as outras três personagens centrais que a cercam (cada namorado de uma realidade e sua melhor amiga) possuem diversas cenas, mas não são explorados a ponto de justificar a inserção das problemáticas vivenciadas por eles dentro da história.

Um exemplo é a situação de Cara (Aisha Dee), a bff de Natalie. Desde do início da exibição é informado que ela não gosta de seu emprego. A repetição deste fato causa a impressão de que ele será utilizado para algo relevante ali. No entanto, não se vê nem ao menos alguma comparação dela com a vida de Natalie ou qualquer outro artifício do tipo. Isto é uma pena, pois Cara é uma personagem com potencial. Mas, mesmo assim, no geral, Como Seria Se…? vale ser conferida por ser uma dramédia que entende que tipo de obra é, o que quer contar e como.

Direção: Wanuri Kahiu

Elenco: Lili Reinhart, Aisha Dee, Luke Wilson, Danny Ramirez, Andrea Savage, Nia Long, David Corenswet, Taylor Murphy

Assista ao trailer!