Difícil saber por onde começar quando o assunto é Carnaval, a nova produção brasileira da Netflix. Existe nele, obviamente, todos os clichês esperados tanto de comédias que envolvem viagens, quanto de produções que se passam na cidade de Salvador, na Bahia. No entanto, ainda que fosse um longa-metragem óbvio, sem grandes pretensões, quando uma obra se trata de uma “farofa”, ela necessita ser divertida, ter alguma lógica interna ou uma narrativa, minimamente, coesa. Não é o que ocorre aqui.
A premissa parte da lógica de que a protagonista, Nina (Giovana Cordeiro), fará uma viagem para fomentar a sua carreira como influencer, levando mais três amigas junto com ela: Michelle (Gessika Kayane), Mayra (Bruna Inocencio) e Vivi (Samya Pascotto). Cada membro do quarteto representa um estereótipo e é cansativo acompanhar cada cena na qual estas marcas de personalidades são representadas. A questão central aqui é que nada aparece de maneira orgânica e, através de diálogos expositivos, estas características são apresentadas.
A dinâmica de comicidade de Carnaval também não funciona por esta razão. Tudo acaba sendo previsível e entediante, no final das contas. Porque além de inserir tipos já conhecidos por suas ações e falas dentro do enredo, falta direção de ator ou talento das intérpretes para segurar um texto de baixa qualidade e equivocado. Estes incômodos vindos do roteiro são ainda mais salientes após a chegada em Salvador. É perceptível a ausência de uma pesquisa ou uma vontade básica de localizar o espectador na cidade. Um exemplo forte é quando Mayra está perdida no bairro da Barra e surge abruptamente, na sequência posterior, no Pelourinho.
Esta vontade de mostrar apenas cartões postais distancia o público que conhece meramente Salvador. Obviamente, existe uma licença na ficção para apresentar qualquer tipo de absurdo, se ele se encaixa na trama e não quebra o pacto com o espectador. Contudo, muito da cultura e das localizações soteropolitanas são jogadas na tela de maneira rasa. As situações apresentadas não fomentam o desenvolvimento da história, como colocar questões de espiritualidade de maneira banal. Inclusive, esta escolha pode ser ofensiva para algumas pessoas que assistirem.
É difícil ver perpetuações de uma imagem sobre baianos no audiovisual. Falta estudo, compreensão da realidade do local e trato da linguagem. A sensação é de que as cenas foram construídas sem costura, deixando a impressão de que existem várias sketches sobre o mesmo tema, mas em blocos. A artificialidade presente na produção está colocada em múltiplos aspectos, deixando pouco espaço para o encontro de pontos positivos. Talvez, alguns momentos de Kayane funcionem. Apesar de seu papel possuir complicações para a criação de instantes engraçados, ela consegue achar saídas, ainda que fáceis, para causar o efeito necessário. O que ajuda a artista é saber como trabalhar algumas frases que se destacam, por meio de pausas ou respirações, que fazem com que as intenções de sua Michelle sejam mais notadas.
Desta maneira, seja na falta de veracidade ao tratar sobre Salvador e seus habitantes ou na própria construção das personagens e de suas relações, Carnaval é preguiçoso e desleixado. A base do entretenimento barato é divertir. Ao ir ao cinema ou ligar a TV, o besteirol tem a função elementar de fazer rir e ser leve. Mas, com ausência de traquejo para criar piadas efetivas, dirigir intérpretes para jogar em cena, escrever um roteiro com o mínimo de lógica interna, a sessão é cansativa e, para muitos, irritante.
Direção: Leandro Neri
Elenco: Giovana Cordeiro, Gessica Kayane, Bruna Inocencio
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