Em linhas gerais, a Marvel Studios faz com Capitã Marvel aquilo que sempre fez com seus super-heróis, uma aventura escapista, sem grande caráter de urgência, fundado na leveza de toques de humor que, para o bem e para o mal, amortecem o drama dos seus personagens e criam no público uma certa familiaridade. A jornada da piloto Carol Denvers, cujos poderes são adquiridos quando ela é encontrada por um grupo de alienígenas em situação incomum, não faz muito diferente dos heróis predecessores do estúdio, equilibrando pontos fortes e fracos da tal “fórmula Marvel” de fazer filmes.
É interessante notar como a primeira aventura-solo de uma heroína do estúdio de Vingadores, quase não consegue encontrar uma linha coerente de construção da sua história por conta de um desarranjado e confuso primeiro ato. Dando conta de memórias esparsas da sua personagem-título, os primeiros minutos de Capitã Marvel são marcado por fragmentos do passado de Denvers que surtiriam maior efeito na construção da empatia do espectador com a personagem caso tivessem seguido uma costura cronológica convencional.
Capitã Marvel é o tipo de filme que precisa de uma história de origem que o estúdio parece evitar por conta de um estigma que ronda os círculos de recepção desse tipo de produção, o de que histórias com esse viés não funcionam mais no nicho de super-heróis. Balela! Uma história como a da Capitã Marvel, uma heroína não tão conhecida do público como Batman ou Homem-Aranha precisa de uma origem, até para criar um laço afetivo do público com a personagem, uma empatia. O filme destrói isso com uma síntese mal feita dos primeiros anos da personagem, indo direto ao ponto, o momento em que ela já é a super poderosa Capitã Marvel. Assim fica difícil para o espectador construir empatia com a heroína.
Com pouco background para a protagonista, falta ao filme marcar a singularidade da sua super-heroína que surge nas telas como mais uma personagem do estúdio repleta de poderes. Aos olhos do espectador que desconhece sua gênese nas HQs, as potencialidades fantásticas de Carol Denvers são completamente genéricas, típicas de quaisquer uma dessas personagens do gênero. O longa até tenta recobrar aspectos da vida passada da Capitã a fim de criar alguma empatia com o espectador, o que inclui a ótima participação da sempre notável Annette Bening, mas daí temos uma reviravolta que traz mais um vilão esquecível na biografia do estúdio.
Brie Larson segura bem as pontas da produção, ainda que seja prejudicada pelo filme. Os melhores momentos da atriz acontecem quando ela surge ao lado de Samuel L. Jackson interpretando um Nick Fury rejuvenescido. Fazendo o que boa parte das produções do estúdio fizeram e que acabaram moldando o cinema blockbuster de uns anos para cá, Capitã Marvel faz essa aventura juvenil repleta de humor adolescente, com ambições modestas ainda que seus efeitos especiais e o barulho da sua ação anunciem o contrário. Na fórmula há também easter eggs nostálgicos (já que se passa nos anos de 1990) que fazem qualquer sacada da produção soar genial. É um filme aquém do que os poderes da sua protagonista anunciam.
Direção: Anna Boden e Ryan Fleck
Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Jude Law, Annette Bening, Ben Mendelsohn, Lashana Lynch, Mckenna Grace, London Fuller, Clark Gregg, Gemma Chan, Djimon Hounsou, Lee Pace
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