Estreia esta semana nos cinemas o longa de comédia dramática Boa Sorte, Leo Grande. No enredo, temos a maravilhosa Emma Thompson (Cruella) no papel de uma mulher mais velha, recém-viúva, que teve apenas um parceiro sexual a vida inteira e que busca finalmente sentir o primeiro orgasmo. Ela decide, então, contratar um acompanhante de luxo profissional, o Leo Grande (Daryl McCormack, Peaky Blinders), para ter uma experiência mais objetiva. O filme se passa praticamente todo dentro do quarto do hotel em que eles ficam e, ainda assim, consegue ser dinâmico e nada tedioso.
Procurando naturalizar o ato sexual e a burocratização que costuma ter em seu entorno, o filme toma o caminho de tornar a situação tão comum quanto aprender a andar de bicicleta. A dupla principal conversa muito sobre as motivações e o que Nancy deseja alcançar: o sonhado orgasmo. Ele teve relações sexuais apenas com o marido, um homem sem romantismo e nada preocupado com o prazer da esposa. Focada a vida inteira em sua carreira e nos filhos, a recém-viúva decide que é hora de experimentar novidades.
A forma como Leo lida com a profissão, especialmente nas primeiras cenas, também é algo que a diretora Sophie Hyde (Toda Terça-feira) procura dar uma roupagem sem preconceitos e clichês que estamos acostumados. Ele é um profissional do sexo, sim, mas um profissional como outro qualquer, com rotina, hábitos, metas e estilo de trabalho. A medida que o filme evolui, claro, vamos entendendo os caminhos que o levaram até ali, mas de uma maneira bem pincelada pelo roteiro, pois o foco mesmo é na descoberta sexual da mulher de meia idade.
É uma temática, inclusive, que precisa sempre ser mais debatida. O entendimento que a sociedade tem que a mulher pós-menopausa não tem (ou não deveria ter) vida sexual ativa é o que leva a muitas a darem esse tempo como passado ou desistirem de tentar resolver questões e traumas vividos. É preciso que o sexo deixe de ser tabu para que ele se torne parte presente na vida de todos e de maneira saudável. O caminho que o filme toma neste sentido (e que eu particularmente concordo) é criando uma naturalização do ato. Transar é muito mais simples do que fazemos parecer ser.
Outro detalhes fundamental de Boa Sorte, Leo Grande é que ele mostra o corpo nu frontal de uma mulher de 63 anos. Sem câmera rápida, sem relance. Vemos de frente, no espelho, por bons segundos. É algo, inclusive, que a própria Emma afirmou em uma entrevista: “quantas vezes nós, mulheres, paramos na frente do espelho para ver nosso corpo nu, sem tentar alterá-lo? Seja murchando a barriga ou mudando a posição?” Essa é mais uma reflexão importante que o filme apresenta.
Ainda que o longa tenha temas importantes e cuidadosos a serem tratados, o humor passa pela maioria das cenas, de maneira muito respeitosa. Não há escracho ou deboche. É um humor normal e nervoso do dia a dia, como quando rimos de uma coisa de não sai exatamente como planejávamos. A cineasta acertou no tom e a escolha de elenco foi ponto chave para o resultado do longa. Afinal, não é fácil sustentar quase 1h40 de filme com apenas duas pessoas dentro de um mesmo cenário entediante de quarto de motel. Para isso, além de Thompson, o ótimo novato Daryl McCormack já mostrou muito de seu potencial. Vale a pena conferir!
Direção: Sophie Hyde
Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland
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