Blitz

Crítica: Blitz

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Nos últimos anos, o diretor britânico Steve McQueen (vencedor do Oscar de melhor filme por 12 Anos de Escravidão) tem se dedicado bastante ao tema da ocupação nazista na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Em 2023, o cineasta dirigiu o documentário Occupied City sobre os ecos dessa experiência em Amsterdã (atualmente, disponível no Mubi) e agora, em 2024, o público pode conferir o drama Blitz, uma produção original da Apple TV+ que chega com exclusividade a este serviço de streaming.

O longa acompanha o bombardeio a Londres durante a Segunda Guerra Mundial promovido pela Alemanha nazista. Tudo isso é visto pelo espectador a partir da experiência de George, um garoto de 9 anos enviado a um campo inglês de segurança por sua mãe Rita, interpretada por Saoirse Ronan (Lady Bird e Adoráveis Mulheres). No caminho para o local, George foge e empreende uma jornada tortuosa de retorno para sua família na qual testemunhará situações potencialmente traumáticas para uma criança.

Com uma produção caprichada – a direção de arte, o figurino e o trabalho técnico com som e efeitos especiais desse longa de época são exemplares -, Blitz é alicerçado, durante boa parte do tempo, no drama familiar vivido por George e Rita. Além disso, o drama de guerra pincela algumas discussões raciais sobre a época, afinal o garoto passar a ter uma dimensão sobre sua identidade a partir do momento em que sai da proteção da sua mãe e do seu avô brancos.

Blitz

Sobre o aspecto da discussão racial, há um certo ineditismo em Blitz já que poucas são as obras audiovisuais que de fato se dedicam a abordar a experiência de personagens negros durante a Segunda Guerra Mundial. Sobre o primeiro ponto, a tragédia pessoal envolvendo o garoto e sua mãe, Blitz encontra o seu principal “calcanhar de Aquiles”: a jornada de retorno do pequeno George para os braços de Rita é a mais genérica possível para filmes do gênero, com um drama esquemático e com poucos traços de originalidade no desenvolvimento das emoções dos principais personagens envolvidos nesse plot.

O longa de Steve McQueen tem seus melhores momentos mesmo quando o diretor explora o bombardeio a Londres, trazendo com realismo a sensação de perigo e caos que toma conta de uma cidade cujo cotidiano é irrompido pelo horror dos ataques aéreos nazistas. Guardadas as devidas proporções, McQueen toma como exemplo o registro de James Cameron na segunda parte de Titanic quando diretor exibe os passageiros do transatlântico em uma situação limítrofe encontrando formas desesperadas de saírem vivos daquela situação. Apesar de tudo ser testemunhado pelo garoto George, a história dele e da sua mãe Rita vira algo secundário para a experiência do espectador diante da constatação de que todo aquele estado de deterioração da condição humana está sendo visto por uma criança de 9 anos.

McQueen capta os extremos da situação e consegue dimensionar o horror da experiência de ver o cotidiano de uma cidade ser arrasado por bombardeios que destroem toda uma “normalidade” em razão de segundos. Há duas experiências com Blitz: a do melodrama familiar da Segunda Guerra Mundial e a simulação de uma experiência in loco do bombardeio. A segunda é certamente mais bem-sucedida que a primeira fazendo valer a direção de Steve McQueen.

Direção: Steve McQueen

Elenco: Saoirse Ronan, Harris Dickinson, Benjamin Clementine

Assista ao trailer!