Crítica: Batman – A Piada Mortal

Publicada originalmente em 1988, Batman: A Piada Mortal foi uma HQ importante para a sua época e até hoje uma das leituras obrigatórias a respeito da relação entre o Homem-Morcego e seu principal inimigo, o Coringa. Roteirizada por Alan Moore e concebida visualmente pelas artes de Brian Bolland, a HQ apresentava uma história curta que iniciava com o Batman buscando o paradeiro do Coringa no Arkham e finalizava com um confronto entre os dois em um parque de diversões após uma série de episódios sinistros que tiveram como vítimas o Comissário Gordon e sua filha Barbara, a Batgirl, claro que todos eles provocados pelo palhaço do crime.

Em sua essência, a história tinha como intuito entender a natureza da violência e da loucura (como as melhores tramas protagonizadas pelo Homem-Morcego) e revelar ao leitor como, no fundo, o maior herói e o mais assustador criminoso de Gotham City acabavam sendo feitos da mesma matéria. “Só é preciso um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático”, diz o Coringa em determinado momento da história. É este conceito que norteia toda a HQ e é em cima dele que algumas das mais importantes histórias sobre o Batman trabalham desde então. Só para citar um dos casos mais populares, Batman: O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan bebe um pouco dessa fonte para construir a relação do seu protagonista com o Coringa de Heath Ledger.

Dando continuidade ao seu catálogo de animações baseadas, em sua maioria, em clássicas HQs da DC Comics, a Warner traz finalmente ao público Batman: A Piada Mortal. O principal desafio da equipe de Sam Liu, que já havia feito para o estúdio de animação o ótimo Batman: Ano Um e Grandes Astros: Superman, era transformar uma HQ tão econômica quanto A Piada Mortal em um filme de 76 minutos. A solução encontrada por Liu, pelo roteirista Brian Azzarello (também famoso no universo DC, mas por seu trabalho em HQs) e pela equipe de animadores foi criar uma trama que antecedesse os acontecimentos de A Piada Mortal e que envolvesse Barbara Gordon, protagonista de um acontecimento responsável pelo desenrolar de todo o conflito da trama central.

O grande problema da versão animada de Batman: A Piada Mortal é não conseguir fazer com que esta trama nova seja orgânica a sua história principal. Isso se torna um grande “abacaxi” para o filme tendo em vista que o prólogo da Batgirl domina os trinta minutos iniciais da animação.

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A nova perspectiva para os eventos lançada pelo filme de Liu traz um relacionamento amoroso entre Barbara e Bruce, seguido de uma grande desilusão amorosa que faz a personagem chegar ao abismo do descontrole emocional e desistir de realizar as suas rondas noturnas ao lado do Batman. Além de ser uma ideia completamente trôpega, todo esse conflito amoroso e seu desenlace traumático sequer é utilizado pelo filme nos seus trinta minutos finais, dominado por uma adaptação fidelíssima a HQ A Piada Mortal. Tal omissão torna os eventos exibidos na meia hora inicial da história até mesmo ofensivo pelo ponto de vista de Barbara, já que tudo corre como se nada tivesse acontecido e Bruce Wayne sai ileso da história.

Na parte em que a animação segue à risca o que está nas HQs de Alan Moore e Brian Bolland, o que vemos é uma transposição eficiente de todas as qualidades da trama de origem, inclusive o seu excelente e instigante final inconcluso. Contudo, isso gera um problema para Batman: A Piada Mortal já que a fidelidade é tão excessiva que faz os realizadores esquecerem de resgatar o que traria brilho a animação, o encontro entre a sua trama original e a que todos nós já conhecemos.

Batman: A Piada Mortal acaba sendo dois filmes em um, sendo que um deles é marcado pelo mau gosto em forma de uma pretensa originalidade e outro pela adaptação fiel e elegante de um clássico das HQs. No saldo, torna-se um filme esquisito, cujo início não dialoga com o seu desfecho e seu fim parece não ter relação alguma com o start da sua trama.

No caso, as inserções de Liu e Azzarello que envolvem a trama de Barbara Gordon seriam bem-vindas se alguns movimentos fossem realizados em prol de mudanças severas no material base, a HQ de Moore e Bolland, inserindo determinadas questões propostas pela relação de Batman e Batgirl no início da fita. Ao optar pela fidelidade canina na metade final da sua fragmentada e confusa animação, os realizadores fizeram uma colcha de retalhos desastrada, revelando que determinadas polêmicas foram levantadas desnecessariamente e que o que o filme possuía de original foi proposto apenas para preencher a duração protocolar de uma fita do seu porte.

O dvd de Batman: A Piada Mortal estará a venda a partir do dia 04 de agosto nas lojas de todo o país.

Assista ao trailer do filme: