Batalhão 6888

Crítica: Batalhão 6888 (Netflix)

Primeiro e único batalhão de mulheres negras na Segunda Guerra Mundial, o 6888 realiza um milagre, organizando milhares de correspondências perdidas das tropas em guerra. Este é o plot da produção da Netflix, Batalhão 6888, que, apesar de irregular, emociona por sua premissa e pelo carisma de seu elenco.

Ainda que apele para o exagero emocional, não utilizando o melodrama da melhor maneira, as sequências de luta e de reflexão de gênero, classe e raça elevam a potencialidade do longa-metragem.

Talvez, o grande incômodo aqui seja as interações da protagonista Lena King (Ebony Obsidian), com seu falecido namorado Abram (Gregg Sulkin). Isto porque o roteiro já gasta boa parte do início da projeção para construir a empatia com o casal.

De fato, o amor dos dois e a tragédia da guerra que os separou é o que conecta os detalhes centrais da trama. No entanto, é cansativo e desnecessário acompanhar as visões de Lena do falecido. Além disso, apesar de Ebony ser carismática, a sua personagem não é bem trabalhada.

Toda a sua motivação parece ser apenas Abram. Mesmo que no começo o público saiba que ela sonha ir para a faculdade e que é apegada a mãe a avó, todo o núcleo de sua personalidade parece ser o seu relacionamento amoroso.

Após a sua chegada no treinamento, esse continua sendo seu mote (o boy) e o tom da personagem não se transforma, o que é estranho porque a jovem passa por um treino intenso.

Ao seu redor, as amigas e chefes também não recebem camadas. No entanto, a presença de uma atriz experiente e habilidosa como Kerry Washington (Django Livre) faz toda a diferença. A intérprete aproveita cada momento em cena, mesmo sem falas verbais.

Batalhão 6888

A postura corporal, os silêncios com trabalho de olhares e respiração e as gradações na voz nos diálogos transformam o seu papel da Major Adams em algo mais significativo para a trama e para a protagonista.

Kerry tem o costume de atuar com uma mescla de olhos marejados e retenção de respiração que, mesmo que seja costumeiro, funciona sempre. Porque, assim, ela consegue convocar um misto de fragilidade e força que aumenta a capacidade de estabelecimento de empatia com a plateia.

Inclusive, a entrada de sua personagem faz diferença durante a sessão, elevando a qualidade da obra. Todavia, este é um dos poucos pontos altos do longa. Além deste, a história verdadeira sobre um batalhão tão revolucionário e importante também acrescenta um caráter de maior relevância para o Batalhão 6888.

Contudo, alguns elementos incomodam consideravelmente. Não a ponto de tirar a vontade de ver o longa, mas de não ter uma fruição tão boa quanto poderia. As temperaturas utilizadas, inserem uma palidez e uma ausência de energia para a narrativa.

O tom melancólico soa exagerado. É uma guerra, coisas ruins acontecem, mas a tragédia dos confrontos não se resumem a algo melancólico apenas. Muito menos é este o foco de Batalhão. Falta uma potência tonal.

Esse caráter preenche as atuações, as cores selecionadas pela fotografia e pela arte e pela direção. Esta última é perseguida pelo conservadorismo, inclusive. Há uma ausência de coragem em arriscar sair da tonalidade pastel, da câmera fixa e das planificações esperadas. A encenação de 6888 é sua maior falha. O espectador não consegue compreender tão bem a geografia da cena, muito menos sentir emoções mais plurais.

Por fim, o desenho de som do filme poderia também ser mais criativo e mais expressivo. Em algumas sequências, como no treino com gás, a sonoridade soa chapada, sem gradações e camadas. Desta maneira, Batalhão 6888 emociona, cria um laço instigante com a Major Adams e emociona por contar uma história real de mulheres tão forte. A produção tem defeitos, mas todos eles parecem pequenos ao final da projeção, por conta da força e coragem deste grupo tão inteligente.

Direção: Tyler Perry

Elenco: Kerry Washington, Ebony Obsidian, Milauna Jackson

Assista ao trailer!