Em suas recentes empreitadas como diretor, George Clooney não tem acertado muito o faro para suas histórias. O Céu da Meia-Noite de 2020 está longe de ser um dos melhores trabalhos da sua carreira, pelo contrário, e Bar Doce Lar soa completamente banal para um filme com a assinatura de alguém que fez uma transição tão bem-sucedida da atuação para a direção com longas como Confissões de uma Mente Perigosa, Boa Noite e Boa Sorte e Tudo pelo Poder, todos acima da média.
No catálogo do Amazon Prime Video, Bar Doce Lar narra a típica jornada de rito de passagem de um jovem garoto, interpretado por Tye Sheridan, que pontualmente compartilha o personagem com o menino Daniel Ranieri. O longa é baseado nas memórias do escritor J.R. Moehringer, um rapaz de origem humilde, estudante da Universidade de Yale, cujo tio Charlie (Ben Affleck) foi um ex-combatente do Vietnã que virou gerente de um bar depois do conflito e passou a ser responsável por todo o repertório literário do garoto, preenchendo também a lacuna do pai ausente do rapaz.
Bar Doce Lar traz consigo toda uma atmosfera old fashioned de narrativa cinemagráfica com um pretenso calor humano na construção das suas relações familiares. Não existe problema algum no fato de George Clooney querer contar esse tipo de história mais antiquada para nossos tempos. O problema é que o diretor não consegue conferir nenhuma singularidade que justifique a jornada de Moehringer ganhar tanta pompa que ganha na sua abordagem. Nem mesmo as relações entre o protagonista e as figuras adultas mais relevantes da sua vida como o tio Charlie (um bom momento de Ben Affleck, mas nada que justifique suas recentes indicações a prêmios e uma menção ao Oscar que se anuncia), a mãe interpretada por Lily Rabe e o avô vivido por Christopher Lloyd. Clooney se esforça e constrói toda a narrativa como algo da ordem do singular, que em dado momento revelará sua grande lição de vida, mas no fundo não há um elemento sequer que distinga Bar Doce Lar de outras histórias de amadurecimento de rapazes já contadas à exaustão nas telas. Tudo é um pouco solto e desprovido de relevância.
Assim, passa a ser óbvio que Affleck se destaque pois é quem tem o personagem mais bem construído da história e o ator, confirmando seu status de estrela hollywoodiana, sustenta com muito charme sua presença em cena.
Há questões incomodas no filme. Uma delas é toda a relação do protagonista com seu pai, uma figura omissa que é estranhamente suavizada ao longo da história e quando revela seu pior lado, tudo parece jogado na tela de maneira muito abrupta e mal construída. Além disso, a escalação do jovem Daniel Ranieri como a versão infantil de Tye Sheridan não convence pela ausência de semelhança física entre os intérpretes de J.R.. Para piorar, Clooney não consegue transitar de maneira fluida entre a infância e o começo da vida adulta do rapaz, a princípio oscila entre os tempos sem nenhuma justificativa aparente e quando passa de vez o bastão para Tye Sheridan o faz sem a menor cerimônia.
Menos ambicioso que os demais momentos de Clooney como diretor, Bar Doce Lar tem um resultado esquisito. É um filme que parece não relaxar ou se conter com sua trivialidade e anuncia o tempo todo uma grandiosidade e singularidade na biografia do seu protagonista e nas suas relações que parece não existir de fato. É um resultado tão aquém dos momentos mais inspirados de Clooney… A recorrência que tem sido trabalhos assim na sua carreira recente acende o sinal de alerta para uma urgente mudança de rumo nas suas próximas produções.
Direção: George Clooney
Elenco: Tye Sheridan, Christopher Lloyd, Ben Affleck, Lily Rabe, Daniel Ranieri, Briana Middleton
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