As Três Filhas

Crítica: As Três Filhas

3.5

No drama As Três Filhas, Carrie Coon, Natasha Lyonne e Elizabeth Olsen têm muito pouco em comum, apenas o fato de que são filhas do mesmo homem. Nos últimos dias do pai das três irmãs elas se reúnem para cuidar dele, mas também para cuidar de toda a burocracia inerente à situação.

O diretor Azazel Jacobs vem de experiências cinematográficas díspares – o elogiado The Lovers de 2017 e o divisivo Saída à Francesa com Michelle Pfeiffer lançado em 2020. Em As Três Filhas, Jacobs procura uma relação mais empática com o público quando constrói (ele também é roteirista do filme) este drama calcado em conflitos familiares perfeitamente passíveis de identificação com diferentes “bolhas” do público. Todo espectador passa, passará ou já está elaborando questões em torno do envelhecimento, adoecimento ou iminente morte dos pais ou possui núcleos familiares marcados por atritos e ressentimentos. Esta é a tônica do mais recente drama do diretor.

Com um roteiro econômico que reduz suas ações a poucos personagens (majoritariamente, as três mulheres do título) e um único cenário (o apartamento da família em Nova York), As Três Filhas tem uma vertente teatral que se confirma na verborragia da sua dinâmica. No entanto, o diretor encontra brechas para mover sua câmera por aquele apartamento de forma a conduzir a atenção do público para os diferentes movimentos das suas três protagonistas em seus embates, o que é sempre muito interessante e rico para que o espectador tenha uma dimensão da complexidade dessas mulheres.

As Três Filhas

O longa acerta ao escalar Carrie Coon, Natasha Lyonne e Elizabeth Olsen, atrizes muito distintas em suas abordagens e que se encaixam perfeitamente nessas personagens. Enquanto Carrie Coon traz para Katie uma abordagem aparentemente seca e pragmática para a situação, sendo por vezes dura com as irmãs, Elizabeth Olsen transforma Christina naquela figura que se esforça para fazer as situações ficarem em uma temperatura mais amena, tentando manter um equilíbrio que, muitas vezes, claro, não consegue. Natasha Lyonne é o ponto mais divergente do trio ao dar vida a Rachel, a irmã mais velha, oriunda de um outro relacionamento do pai das três, e que tem uma abordagem mais franca, irreverente, aparentemente desleixada, mas que no fundo viveu com mais profundidade esse luto até o momento. O desempenho do trio de atrizes é espetacular, todas têm grandes momentos e juntas elas funcionam muito bem.

A partir de uma situação extremamente dramática como a morte de um ente querido, As Três Filhas desenvolve um drama muito sensível sobre a fraternidade, construindo os conflitos comuns a esse tipo de relacionamento através da dificuldade de comunicação e ausência de convergência de temperamentos. Aos poucos, a situação vai mostrando para as protagonistas a necessidade de aparar algumas arestas, sobretudo porque as três possuem coisas em comum, a principal delas é o luto pela morte do pai, isso vai aproximando as irmãs.

Com As Três Filhas, Jacobs faz um longa que não “floreia” as relações familiares, mas que também encontra espaço para sensibilizar as plateias com uma visão afetuosa e otimista para a situação criada, evitando o drama fácil das situações e diálogos clichês. Pelo contrário, tudo no texto e na direção de As Três Filhas aponta para um tratamento complexo, sensível e não manipulatório do sentimento do espectador com aquela situação. As ótimas atuações de Carrie Coon, Natasha Lyonne e Elizabeth Olsen dão a tônica de um drama equilibrado conduzido com muita sensibilidade e que encontra sua excelência nos detalhes do olhar da câmera do diretor e na precisão com a qual calibra os sentimentos da sua história.

Direção: Azazel Jacobs

Elenco: Carrie Coon, Natasha Lyonne, Elizabeth Olsen

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