Agente Oculto

Crítica: Agente Oculto (Netflix)

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É tudo muito pop em Agente Oculto! Seja por seu elenco cheio de figurinhas comumente vistas em Hollywood – como Ryan Gosling, Chris Evans ou a Ana de Armas-, pela direção dos Irmãos Russo (Vingadores: Ultimato) ou por ser da Netflix, esta é uma produção que quer fazer honra ao seu estrelato e ser cool em cada minuto de sua projeção. Aí, é só chamar o Herry Jackman (Jumanji: Próxima Fase) para trazer uma junção de músicas eletrizantes, colocar menos de um segundo para cada plano e transformar um elenco super expressivo fora dali em um nível Keanu Reeves de atuação e se tem o pacote completo deste filme.

E o que isso quer dizer? A primeira coisa que se pode falar é que a maior parte do elenco não consegue imprimir uma emoção na expressão facial. Os textos são ditos de forma mecânica, quase robótica. A única exceção, talvez, seja Wagner Moura (Cidade Baixa), que faz uma pequena participação como Laszlo. Mas, isto não quer dizer que ele estava bem, pelo contrário. Fugindo da neutralidade de sentimentos, Moura vai para a outra ponta e carrega nas tintas. Laszlo é cheio de trejeitos corporais e uma entonação exagerada. Essa característica do casting afasta uma conexão com o público, porém este não é o ponto mais difícil de lidar durante a projeção.

Algumas vezes, circula por aí uma ideia de que filmes de ação precisam ser cobertos de correria e adrenalina. Essa noção está impregnada neste longa-metragem. Não existem respiros aqui e isso acaba deixando a tarefa de torcer pelo protagonista Six (Gosling) muito mais complicada. Nesse sentido, as sequências mais intensas de suspense e luta são as que mais funcionam, justamente porque é onde o esmero e o talento dos envolvidos parecem estar. As movimentações de câmera, os efeitos especiais e as coreografias se juntam para causar uma sensação de falta de ar em que assiste.

Os movimentos corporais dos intérpretes, principalmente Gosling, são precisos e deixam que o público consiga fruir com atenção cada soco, chute, empurrão etc. No entanto, a tensão evapora se o público não se importar com a vida dos mocinhos. Se Gosling não consegue sustentar o seu carisma nesta personagem inexpressiva, de Armas menos ainda. É irritante como ela ocupa uma posição no cinema daquela mulher que quase consegue fazer alguma coisa. É como se ela sempre pudesse salvar o dia, mas ninguém vê isso acontecendo e ela acaba se tornando uma sidekick genérica.

Agente Oculto

Em Agente Oculto não é diferente e ela se torna tão irrelevante para a trama que é possível esquecer dela em vários momentos da narrativa. Já os supostos vilões são Carmichael (Regé-Jean Page) e Llyod (Chris Evans). O primeiro não ganha espaço de tela o suficientemente para que possa desenvolver seu papel, mas, até onde é mostrado, também não apresenta camadas, é insosso e suas motivações são aleatórias. Já Llyod é o pior de todos. Evans conseguiu a proeza de ser caricato e inexpressivo ao mesmo tempo. Além disso, as atitudes de Llyod, mesmo ele sendo totalmente perturbado mentalmente, não fazem sentido algum.

Quem invadiria a cidade de Praga e mandaria todo mundo sair atirando? Até mesmo dentro da história esta ideia estapafúrdia é comentada, mas, mesmo assim, há um ponto contraditório neste ato, porque Llyod é introduzido como um louco, mas um louco que apresenta resultados. Inicialmente, ele parece minimamente esperto e sagaz, porém, ao passo em que a trama avança, ele vai piorando e, no final do longa, já não parece a mesma personagem. De assustador, ele começa a soar como um mero sanguinolento com ausência de inteligência. Isso só funcionaria se existe um arco dramático para que ele pudesse ir se transformando, mas não é o que ocorre aqui.

Desta forma, Agente Oculto é cansativo, contando apenas com alguns momentos de diversão, como toda a sequência com a ex-detetive Margaret (Alfre Woodard). Ela ganha poucas cenas, mas que é uma das poucas figuras que o público pode se sentir próximo. Esta é uma coisa curiosa, na verdade. Porque mesmo com breves minutos, há um impacto no sacrifício dela e somente duas coisas explicam esta força: a atuação de Woodard e um flashback dela, que é o único que funciona, porque consegue amarrar passado e presente de tal maneira que é emocionante acompanhar o que ocorre com Margaret.

No mais, a obra poderia ser, de repente, um videoclipe? Com takes cheios de movimentos absurdos de câmera e Ryan Gosling performando masculinidade tóxica, sem mexer uma sobrancelha, esta é produção esquecível.

Direção: Joe e Anthony Russo

Elenco: Ryan Gosling, Chris Evans, Ana de Armas, Regé-Jean Page

Assista ao trailer!