Crítica: A Visita

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Found Footage: M. Night Shyamalan se rende à “modinha” dos filmes sobre “filmagens caseiras”

 

Desde a metade da década passada o cineasta M. Night Shyamalan, que fez fama após o retumbante sucesso de O Sexto Sentido, amarga um fiasco atrás do outro. Alvejado pela crítica e pelos péssimos números nas bilheterias de filmes como A Dama na Água, Fim dos Tempos, Depois da Terra e O Último Mestre do Ar, Shyamalan e sua filmografia viraram motivo de piada em Hollywood, sobretudo porque o cineasta fora lançado em 1999 com o rótulo de “o novo Hitchcock”. O terror A Visita é anunciado como o retorno do realizador à boa forma, algo que em parte se justifica já que o longa possui ideias interessantes, mas, por outro lado, soa precipitado, afinal o filme possui alguns problemas que emperram a história e sabotam o próprio fluxo criativo do realizador.

A Visita conta a história de dois irmãos que são mandados pela mãe para a casa dos avós já que ela passará alguns bons dias em uma merecida viagem de férias. O casal de idosos mora em uma fazenda isolada de tudo e os garotos, que filmam a rotina da visita para um documentário, começam a estranhar o comportamento deles. Essa experiência fará com que muitas questões mal resolvidas nas relações dessa família sejam solucionadas, como o passado conturbado entre a mãe dos jovens e os seus pais e uma mágoa da irmã mais velha com o seu pai, que abandonara mulher e filhos de maneira abrupta e sem justificativa aparente.

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Casa da vó: Mote de A Visita é a apavorante convivência dos protagonistas com seus sinistros avós

 

Em A Visita, M. Night Shyamalan resolve explorar uma das “meninas do olhos” do cinema de terror contemporâneo, o found footage, recurso pelo qual o espectador acompanha a trama pela perspectiva de um personagem que filma os acontecimentos da narrativa em uma câmera caseira. A câmera em primeira pessoa de Shyamalan em A Visita funciona em parte: se por um lado o realizador consegue tornar o formato orgânico a sua própria história e personagens, por outro soa repetitivo diante de tantos longas que já usaram o recurso e também vira uma muleta da qual o cineasta não consegue se desgarrar em momentos necessários (pense, quem conseguiria continuar preocupado com a gravação de um filme diante da ocorrência de acontecimentos tão macabros consigo mesmo? Os personagens do filme conseguem).

Por outro lado, fica evidente que A Visita é um dos filmes mais bem resolvidos da carreira recente de Shyamalan, cujo último trabalho relevante foi A Vila de 2004, que ainda assim teve os seus “detratores” declarados na época do seu lançamento. O filme não chega a ser comparado a O Sexto Sentido, inegavelmente o seu melhor trabalho, mas consegue construir uma narrativa fluida, utilizando muito bem as marcas do seu próprio gênero e deixando o espectador instigado pelo desfecho da sua história.

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Equilíbrio: Filme é um dos melhores do cineasta nos últimos anos, mas alterna boas ideias com decisões equivocadas

 

Há uma cena ao final do longa completamente desnecessária que evidencia uma espécie de mea culpa do diretor, que não satisfeito em construir um filme de terror digno sente a necessidade de transformá-lo em algo mais do que isso. Me pergunto, para que? Deixando qualquer “birra” de lado, A Visita tem mais pontos positivos a serem mirados do que negativos, prova de que umas boas bordoadas da opinião pública, quando merecidas, não faz mal a ninguém. É um filme eficiente aos seus propósitos e por seus defeitos e qualidades estimula a discussão sobre o seu próprio valor. Afinal, se existe algo que não podemos negar na carreira de Shyamalan é que ele suscita a divergência de percepções acerca da sua própria obra e isso é extremamente salutar.