Mesmo que alguns fãs da série de livros não gostem da comparação, é fato incontestável. Como obra cinematográfica, a franquia Divergente surgiu a rebote do sucesso financeiro de Jogos Vorazes quando o longa protagonizado por Jennifer Lawrence foi lançado nos cinemas em 2012. O filme era o primeiro a representar um filão que hoje já se instalou na indústria cinematográfica: a distopia adolescente. Em seu terceiro capítulo, intitulado A Série Divergente – Convergente, no entanto, a “saga” evidencia os sinais de seu desgaste e até mesmo da fragilidade de alguns conceitos apresentados sobre esse universo lá no primeiro filme. A sensação é que Divergente perdeu o fôlego da sua própria trama ou nunca teve o potencial para a longevidade que supostamente apresentava no primeiro capítulo da franquia. O que fica como herança em Convergente, um terreno que começara a ser pavimentado no segundo longa, é uma trama frouxa, que se estendeu ao máximo que sua capacidade permitia.
A trama de Convergente basicamente acompanha a sua protagonista Tris, uma Shailene Woodley ainda batalhando por um material que faça jus ao seu potencial como atriz, em sua jornada fora das cercas que aprisionam todos em Chicago. Ela parte nessa descoberta com Quatro (o galã canastrão Theo James), seu irmão Caleb (Ansel Elgort), Peter (Miles Teller), Christina (Zöe Kravitz) e Tori (Maggie Q) e encontra um homem misterioso dedicado a entender o que existe por trás das divisões dos grupos apresentadas desde o primeiro filme da franquia.
A sensação de que a trama de Divergente anda em círculos se concretiza nesse terceiro capítulo da série. Assim como acontecia em Insurgente, Convergente sofre do mal do grande orçamento. Com o sucesso financeiro do primeiro longa, o caixa disponibilizado para a equipe aumentou e isso foi convertido em uma produção megalomaníaca em seus efeitos especiais (todos ruins, diga-se de passagem) e cenários, tornando os filmes da série cada vez mais distantes do seu longa de origem, que se tinha lá os seus defeitos, ao menos conseguia reconhecer-se como uma produção de ambições moderadas, ciente das suas limitações etc. O que Jogos Vorazes conseguiu em economia de ação e aquisição de tensão dramática e política nas duas partes de A Esperança, a franquia Divergente conseguiu de barulho e pretensão em cima da sua própria história, narrativa e visualmente, tanto em Insurgente quanto nesse terceiro longa, Convergente.
O que o longa acaba conseguindo é perder-se em suas próprias ambições como blockbuster, não conseguindo sustentar-se como uma peça de puro entretenimento, tampouco resgatar determinadas preocupações e discursos que estão no cerne da sua trama original. Desse mal, os fãs de Jogos Vorazes, por exemplo, não tem do que reclamar. Com uma trama que já não tem mais o que explorar e passa sempre a sensação de uma longa e desnecessária espera para o seu derradeiro capítulo no quarto filme da franquia, Convergente ainda desperdiça o seu ótimo elenco, que oscila entre as presenças completamente descartáveis de atores do calibre de Naomi Watts, Octavia Spencer e Jeff Daniels, todos tirando “leite de pedra” ao interpretarem personagens rasos, e o subaproveitamento de jovens talentos como Shailene Woodley, cuja heroína aborrecida já não apresenta mais conflitos tão interessantes quanto aqueles esboçados no primeiro longa, Ansel Elgort e Miles Teller, absurdamente over como o dúbio Peter.
Dirigido por Robert Schwentke, que esteve por trás de filmes como Plano de Voo, RED – Aposentados e Perigosos e do próprio Insurgente, Convergente é um filme cansativo que só faz sublinhar o desgaste da sua franquia. Para quem acompanha e é fã da série cinematográfica desde o início, esse retorno sobre o filme pode não fazer muita diferença, mas para quem acompanhava a “saga” fora dessa esfera dos fandons e aguardava uma recuperação de fôlego após o irregular segundo filme, o que ficará é a decepção.