A Sala dos Professores

Crítica: A Sala dos Professores

3.5

A Sala dos Professores contraria expectativas sobre a representação do ambiente escolar no cinema. No lugar da construção edificante do processo de aprendizagem e de uma relação entre alunos e professores marcada pela inspiração e toda sorte de sentimentos positivos, típica de uma tradição hollywoodiana, por sinal, o filme de Ilker Çatak, indicado ao Oscar de melhor longa internacional, exibe uma micro-sociedade em combustão, caracterizada por relações repletas de atritos e desgaste mental. Ao menos, esta é a experiência particular da professora Carla Nowak interpretada por Leonie Benesch depois que, com a melhor das intenções, ela acusa uma das funcionárias da escola de cometer furtos.

A suspeita das ações criminosas em A Sala dos Professores é a Sra. Kuhn, uma imigrante que trabalha na secretaria. Carla acusa a mulher de ser autora dos furtos depois que consegue filmar o momento em que uma pessoa pratica a ação criminosa e percebe que ela está utilizando a mesma roupa que Kuhn usa no dia do ato. Quando Carla percebe que está fazendo uma acusação precipitada, é tarde demais. O caso circula pelos corredores da escola e o filho de Kuhn, um dos alunos do colégio, que já era vítima de xenofobia, passa a ser ainda mais hostilizado pelos colegas. A situação acaba também  dificultando o dia-a-dia da professora na instituição, já que ela passa a ter dificuldade para controlar as diversas manifestações de violência que tomam conta da sua sala de aula.

Ilker Çatak administra com precisão o estado de tensão crescente que toma conta do filme. Inicialmente, a protagonista sofre pressões para encontrar a solução mais justa para os problemas que surgem com seus alunos, para logo em seguida ser cobrada pelas crianças para quem dá aula e pelos seus colegas de trabalho, os demais professores. Com isso, o filme faz um retrato preciso e nada romantizado sobre a docência como uma atividade na qual o professor tem que mediar conflitos da forma mais justa e rápida possível, o que nem sempre conduz às melhores soluções, enfrentando ainda, no meio de todo esse processo, o próprio desgaste emocional. Assim, atuar em sala de aula, como enfatizado por A Sala dos Professores, vai além da preparação pedagógica e do domínio de conteúdos, sobretudo em uma sociedade convulsionada pela postura bélica como a que vivenciamos nos últimos anos, marcada pela intolerância e pelos julgamentos apressados das redes sociais.

A Sala dos Professores

Leonie Benesch segura muito bem a tensão de uma história que basicamente tem como modus operandi deixar que uma câmera acompanhe todos os passos da sua personagem, levando a professora Carla a um nível de exaustão que beira o insuportável. A atriz consegue dimensionar todo o desgaste mental da personagem para o espectador, passando com precisão a sensação gradual de encurralamento sentida por aquela mulher diante de tantas cobranças. O filme também oferece ótimos momentos para Eva Löbau, atriz que vive a Sra Kuhn, a funcionária acusada de furto, e também para o garoto Leonard Stettnisch, intérprete do menino Oskar.

A Sala dos Professores é um thriller eficiente que consegue fazer um retrato cruel e pertinente sobre as tensões do ambiente educacional contemporâneo, que são reflexos da própria experiência de viver em sociedade atualmente. Xenofobia, bullying, desgaste mental e a destruição de reputações por tribunais informais são temáticas que “atravessam” a experiência da protagonista do filme de Ilker Çatak e que dão a temperatura dos desafios atuais da sala de aula. O filme é um grande exercício de gênero cinematográfico, mas também uma análise social bastante perspicaz.

Direção: İlker Çatak

Elenco: Leonie Benesch, Michael Klammer, Rafael Stachowiak

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