O longa A Recompensa conta a história de Dom Hemingway, um conhecido arrombador de cofres que foi preso depois que decidiu não entregar um de seus clientes. Doze anos se passaram na prisão, quando ele finalmente é solto e vai em busca de sua recompensa pelo silêncio. Com o ego bastante aflorado, ele acaba contando vantagem do dinheiro ganho, bebendo e se drogando com prostitutas na casa do homem que lhe devia, envolvendo-se em situações bastante delicadas.
Trazendo uma performance única e hilária de Jude Law, o filme pode causar controvérsia em algumas pessoas. Pode-se dizer que ele é estranho, mas acredito que num bom sentido. Como a maioria das comédias britânicas, ela é mais sarcástica, escrachada e envolve mais fatos engraçados da desgraça alheia, muito diferente das americanas, que leva mais para o riso óbvio. É uma particularidade do gênero no país e que certamente não agrada todo mundo.
A primeira cena já faz uma construção de personagem incrível. Em primeiro lugar, é válido salientar que o título do filme em inglês é Dom Hemingway, mostrando que o foco é totalmente no protagonista. Isso fica logo claro, quando a película inicia com um monólogo de Law falando sobre quão incrível é seu pênis. O espectador percebe de cara que aquele é um personagem com o ego inflado, que acredita ser o melhor em tudo. Ainda na mesma tomada, o diretor já desconstrói essa situação, mostrando a realidade em que Hemingway se encontra e a necessidade que a questão impõe de ele ser mais humilde.
O filme tem uma característica interessante de ser meio que dividido em capítulos. A cada mudança mais brusca de situação, a tela mostra frases relacionadas, como uma passagem. Por sinal, um detalhe a ser observado é que grande parte das cenas do filme são contínuas. O roteirista vai mostrando fala por fala, reação por reação e as consequências disso. Não é naquele estilo em que algo acontece, muda a cena e já mostra o depois. E nesse ponto é legal observar que se o filme não tiver um bom roteiro, vai levar o espectador ao tédio rapidamente. Não é o caso.
Claro que essa não é uma comédia comum. O protagonista é uma pessoa difícil, egoísta, egocêntrico e pouco amável. Mas essa mistura de sentimentos é que torna ele interessante e a acaba conquistando quem assiste. A evolução de sua história é gradativa e ele não perde sua essência mesmo quando a vida já lhe fez passar por tantas provas. Trazendo mais uma vez a característica da comédia britânica, o uso de muitos palavrões toma a maioria das cenas e pode desagradar algumas pessoas. Acredito, no entanto, que isso constrói ainda melhor a história e se adéqua muito bem ao personagem.
Os detalhes das vestimentas e da própria criação de ambiente em todo o filme casa perfeitamente com o enredo, o fato do personagem de Law ter perdido tantos anos de sua vida dentro de uma prisão e encontrado tudo tão diferente quando saiu. A trilha sonora também é algo para ser notado, com várias músicas de rock, variando entre a diversão e o lamento.
Para os amantes da série Game of Thrones, essa é uma oportunidade de ver a atriz Emilia Clarke, a conhecida Daenerys Targaryen/ Khaleesi, completamente diferente daquele loiro platinado. Em A Recompensa, ela surge com os cabelos curtos, ruivos e um pouco mais gordinha. Ela interpreta a filha de Dom e faz uma ótima composição com Jude Law.
Diferente e até bizarro, o filme certamente não vai agradar todos os públicos. Mesmo para quem não curte o gênero de comédia britânica, vale a pena assistir pela performance incrível de Jude Law, que rouba todos os holofotes pare ele. Além disso, não tem como não rir na maioria das cenas.