A Jaula

Crítica: A Jaula

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E se você ficasse dias preso dentro de um carro, sem poder sair para nada, sem água e sem comida? Pois esse é o terror que Djalma, interpretado por Chay Suede (O Banquete), vive em A Jaula ao tentar roubar um carro estacionado numa rua pacata. Ao entrar no veículo e tirar o som do painel, as portas travam remotamente e ele se vê dentro de uma jaula. Os vidros são blindados e bem pretos, fazendo com que ninguém consiga vê-lo ou escutá-lo do lado de fora. A partir daí, o que se segue é uma sequência de desespero para tentar conquistar sua liberdade.

Tudo isso acontece porque o dono do carro, um médico renomado, está cansado de ser roubado, depois de já ter sofrido com 27 assaltos. Então ele começa um terror psicológico com Djalma, para tentar dar uma lição no meliante. Existem algumas similitudes com o mote principal de Jogos Mortais, onde os personagens também se veem presos e manipulados por um sociopata. No entanto, carece aqui em A Jaula a mesma tensão que seu objeto de inspiração.

Embora eu goste muito de Alexandre Nero (Albatroz), ele está num papel completamente canastrão, até mesmo na parte em que escutamos apenas a sua voz. A falta de naturalidade torna tudo tão teatral que coloca água abaixo qualquer tentativa de causar angústia no espectador. Chay até se esforça para contrapor esse ponto, mas não consegue sustentar as cenas sozinho. Ele está numa ótima atuação, dentro de um roteiro raso e criado de qualquer jeito.

A sensação que o espectador fica é que existe ali um grande potencial completamente desperdiçado pela falta de cuidado nos detalhes. Um outro elemento que incomoda é a pontualidade de colocar o vilão como um bolsonarista “homem de bem”. Falta sutileza neste processo, tornando-se um filme que facilmente perderá o prazo de validade em pouco tempo. Diferente de Bacurau, que trata da desonestidade política e revolta de classes de maneira mais ampla, este aqui faz questão de colocar até falas que nosso atual Presidente pronuncia, como “tá ok”. Independente de você ser alguém que ama ou odeia Bolsonaro (meu caso aqui), o filme força muito uma posição que poderia ter sido feita sem tanta obviedade.

A Jaula é um filme que deveria causar tensão do começo ao fim no espectador e falha no seu único objetivo principal. O típico longa que a gente esquece no minuto que sai da sessão, pois falta lógica, conexão de roteiro, cuidado nos detalhes. Falta o básico e sobra o desnecessário.

Direção: João Wainer

Elenco: Chay Suede, Alexandre Nero

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