Escrito e dirigido por Michael Rianda e Jeff Rowe, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas chega ao Brasil, através da distribuição da Netflix. Rianda e Rowe possuem comum a participação na equipe de roteiristas da série animada Gravity Falls. Para quem conhece a produção, este já é um indício em si de que o público poderia encontrar neste novo projeto uma obra que assume riscos e procura ser descolada, jovial e bastante bem humorada. Estas expectativas são, no geral, atendidas aqui. Com quase 2 horas de projeção, há no filme uma dinâmica rítmica eficaz que prende, em grande parte, o espectador no acompanhamento da narrativa, bem como diverte e cria empatia com suas personagens. A questão familiar é um gancho certeiro para causar esta aproximação.
Para que tal intento seja alcançado, algumas estratégias são utilizadas. Estas já aparecem nos primeiros minutos de projeção. Com efeitos visuais que lembram colagens e montagens vistas na internet, na contemporaneidade, a protagonista, Katie (Abbi Jacobson), conta e ilustra quem ela é, como sua família é um tanto disfuncional e que uma espécie de apocalipse está instalado no mundo. O fato de cada membro dos Mitchell possuir um traço característico de personalidade (como a mãe conciliadora, o pai turrão ou a filha nerd) funcionam porque evocam referências reconhecidas, seja aqueles do próprio cotidiano do consumidor ou vindos de outros produtos midiáticos – ainda que as características sejam meio antiquadas, por serem estereótipos típicos de familiares pautados em padrões normativos da sociedade.
Outros elementos que funcionam são as gags e as tiradas inspiradas em conteúdos vistos em plataformas como Youtube e Tiktok. Elas também dão o tom geral do longa-metragem criando, assim, uma localização imediata para o público de como a personagem principal enxerga o mundo e as pessoas ao seu redor. Este fator, mostrado desde o início da exibição, é importante para cada construção e resolução dos conflitos inseridos do enredo, até o seu desfecho total. Desta maneira, a criação e a manutenção da atmosfera é um dos seus pontos altos. No entanto, vale ressaltar que esta dinâmica acaba por ser cansativa em alguns momentos. O reforço de linguagem quebra as lógicas de velocidade, podendo tornar certos trechos enfadonhos ou óbvios. Um exemplo é a sequência após a ação dentro do shopping.
Dois fatores contribuem para este esgarçamento. O primeiro é o fato de que um ápice é atingido, seguido de uma queda significativa. Entre a ideia do novo plano, execução dele e o plot twist que ocorre antes do final da trama, a sensação que resta é de que o roteiro tenta enrolar quem assiste, pois o plano B já parecia o A, tornando os caminhos aqui previsíveis. O segundo fator é que, para tentar manter o que fora previamente construído, recursos semelhantes à primeira metade do longa são usados. Contudo, se havia um crescimento exponencial – e, talvez, se existissem mais respiros anteriormente o peso da progressão fosse mais controlado –, ao voltar para instantes parecidos com seu início, tudo soa bastante repetitivo.
No entanto, esta questão não compromete tanto o resultado geral de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, porém reduz a sua potencialidade. Isto porque se a sua chave principal é o divertimento, quando o tédio se instala, o seu aparente objetivo é perdido, mesmo que por pouco tempo. Ainda assim, ainda é possível apontar outro aspecto positivo dentro de todo este contexto. As dublagens da versão original são bastante criativas e fomentam o tom da produção. Neste cenário, existem dois destaques de interpretação: Maya Rudolph, como Linda e Olivia Colman, como PAL.
Maya se pauta em buscar as transformações de personalidades todo o incidente causa em Linda, na perspectiva de trabalhar com múltiplos tipos de agudos, desde alegria e reconfortante até assustador e imponente. Já Olivia, se encaminha para o jogar com sarcasmo e ironia, deixando espaço para transmitir certas fragilidades de sua personagem – uma inteligência artificial de telefone, algo como a Siri, da Apple. Apostando, majoritariamente no grave, as quebras tonais, fomentam os momentos de preocupação de PAL. Por estas razões, é notável o esforço de Rianda e Rowe em entregar um projeto criativo, que busca dialogar, principalmente, com a juventude atual. Mesmo que com alguns tropeços, segurando as expectativas, esta pode ser uma sessão agradável.
Direção: Michael Rianda e Jeff Rowe
Elenco: Abbi Jacobson, Maya Rudolph, Olivia Colman, Danny McBride
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