Crítica: A Cabana

A Cabana é daquelas obras que querem desde o primeiro segundo de sua projeção passar uma mensagem ao seu público. No caso em questão, o filme, baseado no livro homônimo de William P. Young, trata da importância do perdão através da história de um homem vítima de um trágico evento em sua família. Há um conflito central, o protagonista interpretado por Sam Worthington (de Até o Último Homem e Avatar) vem de um lar extremamente religioso, mas não consegue acreditar em Deus como sua mulher, apesar de respeitar a sua fé e ir com ela e seus filhos todos os finais de semana a Igreja, acontece que quando ocorre a tragédia familiar o patriarca não consegue perdoar a si mesmo e muito menos Deus pelo ocorrido. Isso muda quando ele recebe um convite para ir até uma cabana e lá encontra um grupo de pessoas liderado por uma mulher chamada Elouise, vivida por Octavia Spencer (ganhadora do Oscar por Histórias Cruzadas), que está disposto a ensiná-lo uma forma de lidar melhor com sua dor.

O problema de A Cabana não é o fato dele ser um filme com um evidente viés religioso (isso não é demérito em momento algum), a grande fragilidade do título está em ser didático demais na afirmação do seu caráter de história com lições de moral. É como se A Cabana não confiasse na capacidade que o seu espectador tem de tirar conclusões e interpretações a respeito daquilo que assiste. Nada é sutil no filme, dos personagens que evidenciam os traços do seu caráter divino nos nomes e vestimentas esvoaçantes aos cenários que evocam paisagens campestres, tudo está ali para fazer com que o espectador saia da sala de cinema sem a menor sombra de dúvida possível a respeito do que o longa intenta passar. Isso acaba tornando a experiência de contemplar sua narrativa demasiadamente enfadonha.

 

Mais difícil ainda é dar credibilidade a Mack Phillips, protagonista da história que está passando por um difícil e dilacerante processo de libertação pós-trauma. O australiano Sam Worthington não consegue passar a menor credibilidade para o público ao assumir a pele de um homem que tenta assimilar um drama tão agudo e que é o tempo inteiro reforçado pelos diálogos dos personagens. Worthington tem uma presença apática em cena, quando chora cobre o rosto com as duas mãos, quando a história exige uma reação a feridas expostas ele não consegue expressar sua dor a contento, fica tudo na superficialidade, nos dizeres enfáticos e nas costas da tal mensagem do filme.

Apesar dos esforços de Octavia Spencer em um papel fundamental para A Cabana avançar e mostrar um desejo de ser mais do que um drama familiar, encarar em profundidade a jornada de autodescoberta de um protagonista que se revela opaco ao seu espectador é praticamente impossível e no mínimo desafiador. No texto do filme ainda é possível extrair alguma questões pertinentes para serem debatidas após a sessão independente daquilo que o espectador tenha como crença ou não, mas o excesso de ênfase sabota um pouco o projeto e isso é reflexo inclusive das suas dispensáveis duas horas de duração, poderia ser uma obra mais enxuta com meia hora menos de história.

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