Em Omar La Fraise, seu primeiro longa-metragem, Elias Belkeddar (Un jour de mariage) entrega uma dramédia, que capta o espectador pelo carisma das personagens centrais. Ainda que existam tropeços que comprometem demasiadamente o resultado final da obra, aqui é possível mergulhar no universo dos bandidos Omar (Reda Kateb) e Roger (Benoît Magimel) de tal maneira, que o espectador pode sair da sessão satisfeito.
Passando-se na Argélia, a primeira coisa que se nota dentro da narrativa é como, infelizmente, brasileiros podem encontrar identificações com os algerianos. Há algo de “rir da própria desgraça” que perpassa a história, que mostra não apenas a inevitabilidade da vida do crime para uma parcela da sociedade, que se vê abandonada pelo descaso do governo, na miséria e na luta pela sobrevivência, mas também na busca constante por encontrar a felicidade dentro do caos.
Além deste cenário semelhante da vivencia do Brasil, existe a universalidade de um enredo que também trata sobre o amor, seja ele o fraterno ou o romântico. A amizade entre Roger e Omar é o ponto alto do filme, que consegue emocionar e cativar o público através da parceria genuína entre a dupla. O grande mérito disso está na elaboração dos diálogos, mas, principalmente, no trabalho de ator de Kateb e Magimel.
Os intérpretes construíram seus papéis com semelhanças e distinções entre os dois bem intensas, o que fomenta a lógica desta conexão entre Roger e Omar, algo que vem da juventude e que é sentido durante toda projeção. Já no quesito romance, a dinâmica de Samia (Meriem Amiar) e Omar também elevam a potencialidade do longa. Inclusive, é a partir do momento da entrada de Amiar em cena que a trama finalmente deslancha.
Quando os três estão contracenando, como na sequência da corrida de dromedários, é quando a sessão se torna mais prazerosa. Todavia, é necessário pontuar como Omar La Fraise demora de engatar. Com repetições das interações entre Omar e Roger no mundo do crime, o foco demora de apresentar sua nitidez, prolongando momentos semelhantes e fazendo com que os instantes importantes da vivência das personagens precisem ser convocados rapidamente, porque tempo demais foi gasto anteriormente.
Falando em foco, falta ao diretor e ao fotógrafo um pouco mais de noção de geografia da cena. É complicado acompanhar as cenas de ação aqui. Esse é um dos motivos da demora da imersão com o que está sendo colocado na tela também. Quadros desfocados, enquadrados sem revelar as emoções das personagens, lutas com movimentos de câmera que impedem a compreensão de noção espacial interferem negativamente na ambientação de quem assiste.
Quem socou quem? Qual é a expressão desta garota naquele momento de tensão? Quem é o agente dominante da ação dramática agora? Este tipo de pergunta é constante durante toda a exibição e causam distração constante. Ainda assim, Belkeddar entrega uma direção que carrega algum potencial. Omar La Fraise é tudo menos um produto sem personalidade.
Com um equilíbrio entre crítica social, emoção, comicidade e estabelecimento de empatia pelos sentimentos humanos mais crus (paixão, raiva, medo, instinto de sobrevivência etc), a empatia se estabelece rapidamente entre emissor e receptor, apaziguando os distanciamentos provocados pela tecnicidade ainda imatura.
Direção: Elias Belkeddar
Elenco: Reda Kateb, Benoît Magimel, Meriem Amiar
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