Corina

39º Festival Internacional de Cinema de Guadalajara: Corina

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Apostar em personagens tímidas, com experiências e estilo de vida peculiares, de certo, tornou-se uma recorrência no cinema mundial. Corina, longa-metragem de Urzula Barba, segue esta lógica. Aqui, o público acompanha uma jovem sonhadora e sensível, que exala uma vibe Amélie Poulain mexicana.

No entanto, apesar de apresentar uma dinâmica bastante conhecida por cinéfilos, há algo de encantador no filme. Primeiramente, Corina é uma personagem carismática, o que cria de pronto uma conexão da plateia com a protagonista. Um dos grandes méritos desta qualidade é o trabalho da atriz Naian González Norvind.

Através de micro movimentos, Naian cria a sua Corina tímida e retraída. Todavia, ao mesmo tempo, a intérprete imprime no olhar toda acidez, crítica e visão de mundo em seu papel. Esta se torna, assim, uma personagem complexa e cheia de camadas. Mas, esta característica também está presente no roteiro, também de Urzula.

As ações de Corina são contraditórias ao seu discurso e, por isso mesmo, a sua pluralidade é trabalhada. A jovem, ainda que cheia de traumas e resistente a sair da sua suposta paralisia, ganha vida e movimentação dramática (no sentido de dramaturgia), pois está em constante ação física.

Há, então, uma criação de universo dicotômico aqui. Timidez X coragem, gestos contidos X aceleração corporal, retração X observação atenta e ativa. São nestes paralelos que o mundo “corinesco” instiga e prende a atenção. Ainda assim, não há nada de muito novo aqui e a trama será óbvio.

O que a plateia precisa saber é que os acontecimentos do enredo serão previsíveis, desde os primeiros minutos de exibição. A grande questão do longa é acompanhar o “como”. Como Corina passa a estabelecer relações íntimas e pessoais, levando-a ter o reconhecimento que almeja.

Corina

A forma como Corina é sonhadora e cuidadosa com o que a cerca, transforma quem a acompanha em sua trajetória. Essa lógica poética e charmosa de produções conectadas com figuras fofas e inspiradoras, é uma boa pedida para finais de semana, por exemplo.

Porque, mesmo que seja uma obra ingênua, o resultado geral é de certa qualidade. A direção é tradicional, mas consciente. Há muito de plano/contra-plano, closes para elevar o potencial de emocionar os espectadores e pouca movimentação de câmera. Contudo, a decupagem dialoga com a narrativa.

Os efeitos e movimentos de câmera aparecem para pontuar emoções específicas das personagens, como quando o pai de Corina morre; ou quando ela precisa sair para trabalhar, deixando o conforto e a segurança do seu lar; ou, ainda, quando ela descobre que seu roteiro foi parar na empresa que trabalha.

Desta maneira, Corina é um filme que não desagrada. Não é uma produção que vai gerar emoções fortes, como paixão ou ódio. O longa tem atores que criam de forma correta, há fé cênica e organicidade – com poucas afetações, em alguns momentos, de alguns coadjuvantes -, o roteiro é redondo e cumpre a jornada clássica do herói, a direção opera a favor da história, bem como a montagem e a música incidental também.

A direção de arte talvez seja o que mais se sobressai dentro de todo este contexto. Figurino, cenografia, maquiagem e os objetos de cena criam mais um caminho narrativo para Corina. Os tons pastéis ficam lentamente mais vivos. A fotografia contribui para essa sensação, deixando que as temperaturas mais quente ganhem espaço na tela.

Então, existem preciosidades nesta obra ok e ela ser apenas ok não faz mal algum. Pelo menos, a obra não parece pretensiosa em sua estética, apesar de tentar demais ser descolada e inventiva em termos de trama.

Direção: Urzula Barba

Elenco: Naian González Norvind, Cristo Fernández, Carolina Politi

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