Arillo de Hombre Muerto

39º Festival Internacional de Cinema de Guadalajara: Arillo de Hombre Muerto

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É quase impossível que uma produção audiovisual consiga criar suspensão ou conexão com o público, se não há uma elaboração de contexto relacional entre protagonista e plateia. Ainda que o papel principal seja permeado de incertezas, impurezas, desvios comportamentais, este diálogo com quem assiste precisa ser esabelecido. Esta é uma aposta certeira do roteiro e da direção de Alejandro Gerber Bicecci (Vaho), desde o início da projeção de Arillo de Hombre Muerto. Dalia (Adriana Paz) é uma mulher palpável, de carne e osso, mãe e esposa, tem um amante e trabalha no metrô.

Uma pessoa comum, a Dalia, porém que demonstra um olhar generoso e cuidadoso com quem está ao seu redor. É assim que o longa-metragem Arillo de Hombre Muerto se inicia, revelando toda esta humanidade de Dalia para o espectador. Com marcas visuais e discursivas pontuais – como vestimentas, os objetos de cena escolhidos para serem os da decoração da casa dela, o penteado que usa ou no trabalho que realiza -, é sabido também com muito pouco qual a classe econômica e social dela.

Há também no roteiro uma progressão na construção da reviravolta na vida de Dalia que, mesmo que seja repentina dentro da trama, é trabalhada com gradações dentro do enredo. Assim, o desaparecimento de seu marido é colocado em cena de maneira suave. Não há um tom de despero imediato, como poderia acontecer em um suspense hollywoodiano. Há uma observação atenta de Dalia que, ao mesmo tempo que procura ajuda de insituições oficiais, tenta investigar o caso sozinha.

Arillo de Hombre Muerto

A utilização de mais planos médiosem Arillo de Hombre Muerto joga com a dúvida sobre os reais sentimentos de Dalia, evocando uma complexidade para a sua personagem. Entre desespero, alívio e culpa, ela é jogada em um universo desconhecido de luta e exposição, que a colocam em um dado momento em uma tonalidade vocal e uma tensão corporal mais intensa e elevada, chegando a inserir pinceladas de melodrama na história. É a partir deste crescente que o público pode até mesmo se valer de pistas do gênero para ler o longa com mais habilidade.

Os traços melodramáticos estão ali: traições, complôs, o preto e branco da imagem (no caso do cinema), o sumiço do esposo traído – que pode ou não ter sofrido algo grave ou simplesmente ter fugido. Ainda assim, Bicecci põe elementos de filmes criminais e tem, até mesmo, algumas referências de cinema noir, imageticamente falando. Sombras, foque/desfoque e dubiedades das falas dentro dos diálogos. Não há como saber quem fala ou não a verdade para Dalia.

Nestes sentidos, Arillo de Hombre Muerto é consciente sobre o que deseja contar e como. De certo, a utilização da nitidez e tempo de tela do rosto de Dalia poderiam ser repensados para que este relacionamento da audiência com ela se ampliasse e fosse possível compreender mais profundamente quem é esta mulher, central para a narrativa. De todo modo, essa lacuna de quadros com investigações maiores em relação à Dalia não compromete a qualidade geral de Arillo. Esta é uma sessão que envolve e gera uma curiosidade em acompanhar o seu desenvolvimento e desfecho.

Direção: Alejandro Gerber Bicecci

Elenco: Adriana Paz, Noé Hernández, Gina Morett

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