Black Rio! Black Power!

28º FAM: Black Rio! Black Power!

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Dos anos 1970 aos 1980, a cidade do Rio de Janeiro contou com um movimento cultural efervescente: o Black Rio. Através do Soul, o despertar da consciência racial se espalhou por territórios cariocas, alastrando-se para todo país. É este o tema do documentário Black Rio! Black Power!, dirigido por Emílio Domingos.

Em termos históricos, o longa-metragem é impecável. Através dos olhares de Dom Filó, Carlos Café, Carlos Alberto Medeiros – e de tantas outra figuras importantes para este cenário -, o público ganha uma aula sobre letramento racial e a luta do movimento negro no Rio de Janeiro.

Momentos sobre a ditadura militar, a criatividade para criar e manter os bailes blacks e a forma como a vontade de dançar acabou convocando também o estudo político e social são os centros das falas. Em termos discursivos, a obra consegue imprimir de maneira completa o cenário argumentativo do individual para o coletivo, com detalhes.

No entanto, em aspectos formais, a sua estrutura é um tanto cansativa. Tem-se aqui uma mescla de “cabecinha flutuantes” (entrevistas), com algumas imagens de arquivo. Sonoramente e visualmente, as estratégias são as mesmas durante toda a projeção. Sob som com música, fotos antigas, voz off, desce a música, entrevistado (a).

Black Rio! Black Power!

Caso o carisma das personagens de Black Rio! Black Power! e o que elas dizem não fosse tão forte e instigante, a sessão seria difícil de acompanhar. Ainda que seguir modelos tradicionais de doc não seja um equívoco, variar o fluxo sonoro e visual ajuda a construir respiros e tornar a experiência mais prazeirosa.

De toda maneira, ver Dom Filó, e tantos ícones do movimento Black Rio, dançando e contando suas histórias empolgadamente vale cada minuto do filme. Diversos detalhes do que ocorreu nos anos 1970, que influenciam a música atual, são reveladas progressivamente, o que é um mérito do roteiro e também da montagem.

Quem assiste embarca em uma espécie de máquina do tempo e as vozes dos protagonistas deste tempo histórico e tão importante para eles e para o país embalam a imaginação da plateia. É curioso observar que a felicidade dos narradores contamina os ouvintes, que sentem em seu sangue o soul pulsar, de alguma maneira.

Entre reflexões sobre a sociedade e o racismo e a música contagiante de um período de redemocratização brasileira, Black Rio! Black Power! emociona e conscientiza, é paixão e luta em formato de longa.

Direção: Emílio Domingos

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