Distâncias e aproximações na relação de uma mãe e uma filha são investigadas neste curta-metragem, a partir do fato de que ambas são peruanas, mas a primeira mora no Canadá e a segunda permaneceu no Peru. Aqui, há uma mistura de carinho, amabilidade e frieza da protagonista nos seus gestos e falas. Assim, Mamita (Carola Escobedo Giron) não é colocada de uma forma maniqueísta dentro da obra, que carrega seu nome no título.
Estas emoções são passadas, principalmente, nos silêncios, seja na viagem de ônibus que as duas dividem ou no caminho dentro da van. São os olhares de Mamita que revelam mais sobre suas emoções em relação a sua filha Mari (Heather Loreto). Já quando as duas estão dialogando, a personagem fica um tanto contida. É como se ela tentasse evitar um confronto direto ou falar realmente sobre suas emoções. Um é exemplo é quando a protagonista quase menciona como é difícil morar em solos canadenses, porém guarda para si a sensação.
Neste sentido, a produção consegue imprimir o peso que habita o coração de Mamita, que carrega uma saudade e uma sensação de não pertencimento junto consigo. Inclusive, o roteiro é feliz em deixar a sua explosão apenas no desfecho da exibição, quando ela pode finalmente soltar toda a carga que vem sentido e não deixou transparecer. É nisso que a produção se sai melhor, em deixar nítido o que Mamita sente.
Todavia, existe o “por que?”. Falta ao filme justificar melhor as motivações da personagem, as suas relações com as pessoas ao seu redor, o motivo do desconforto dela ao visitar a sua antiga realidade etc. Nenhum destes fatores precisam ser postos verbalmente. Assim como o seu amor pela sua filha, todo o resto poderia estar colocado nas cenas de alguma maneira, para que fosse palpável toda a jornada de Mamita, criando uma verdadeira construção desta figura.
Mas, apesar desta característica, a sensibilidade da equipe técnica e das intérpretes centrais, Carola e Heather, conquistam o espectador. Um exemplo é nesse jogo entre a distância que Mamita representa na frente de Mari, com tonalidades beges que as circundam, versus a melancolia azul, quando ela está abraçada com a filha na van. Assim, Mamita é amável, porém nunca profunda.
Ainda assim, as duas conseguem estabelecer um diálogo com olhares, o que acaba contando bastante sobre o que elas pensam. Na cena do casamento de Mari este elemento chega no ápice e acaba gerando o clímax da obra. Assim, existem elementos bem elaborados em Mamita. Na realidade, a grande questão do curta é que ele quase chega lá. Entre tentar emocionar, através desta relação constantemente interrompida pela distância física, falta ao material se concentrar em também investigar a realidade de sua personagem central.
Sem saber – ou pelo menos, demonstrar saber – o background e as experiências de Mamita fica difícil amarrar o conteúdo geral e a sessão acaba sendo frustrante, porque é uma batida na trave. A equipe conta com atrizes talentosas e algumas ideias promissoras na técnica (momentos inspirados de uso da luz, seleções do time de arte para a composição de figurino e cenário ou a própria decupagem). Mas, a obra não vai além disso, da sua boa intenção.
Direção: Luis Molinié
Elenco: Carola Escobedo Giron, Heather Loreto, Gabriel Infante