O Destino da Senhora Adelaide

26º Festival Cine PE: O Destino da Senhora Adelaide

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É inteligente o caminho que percorre a animação O Destino da Senhora Adelaide. Em cinco minutos de duração, o público vai descobrindo o que está acontecendo com a protagonista pouco a pouco, bem como quem são as figuras borradas que a cercam O quebra-cabeça é montado, mas as idas e vindas presentes na mente de Adelaide não. O espectador, depois de compreender o que está havendo com ela, passa a ser arrebatado pela delicadeza da direção de Breno Alvarenga e Luiza Garcia.

O jogo entre traços soltos e lembranças com imagens mais elaboradas, deixa nítido a diferença entre passado e presente e como esta senhora navega pelo tempo e espaço, por conta de sua condição. Como ela se enxerga também é relevante. Transitando por fases distintas da sua vida, Adelaide se sente insegura, forte, perdida ou resoluta. As idades estampadas na tela, fomentam as suas emoções e pouco precisa ser dito no diálogo.

Na verdade, este é um dos maiores ganhos do curta-metragem: ele não subestima quem assiste. Nesta lógica, há um ganho considerável no tom quase poético das imagens. São cinco minutos apenas, mas muito é dito dentro deste enredo conciso, cuidadoso e que pega a plateia pela emoções – ou até identificação, para alguns. Porque a direção traz uma mise-en-scène que guia o olhar para as sensações e as atuações também.

Um exemplo está no fato de que não é possível saber as expressões faciais dos filhos de Adelaide, porque eles não têm rostos, mas as vozes deles transmitem sentidos plurais e fomentam. Além disso, o próprio fato de haver a ausência de faces cria um impacto maior em relação a situação que é ali mostrada. Com todos estes elementos positivos, o curta poderia ser um pouco mais contido nessas transições de idade de Adelaide.

A duração da obra é pouca para as recorrentes mudanças, o que tira um pouco da conexão com a produção. Há também uma pequena queda durante o texto da cena em que Adelaide conversa com sua mãe, porque, naquele momento, algumas frases ingênuas e de efeito são proferidas, o que faz com que a qualidade geral caia. No entanto, estes pontos um tanto negativos levantados não fazem com que a totalidade de O Destino da Senhora Adelaide seja afetada.

Aqui, encontra-se um tanto de afeto e zelo, bem como a utilização da estética à serviço da narrativa. Por fim, ainda vale salientar que a direção de arte de Otávio Garcia deixa ainda mais pistas de quem é esta mulher, que foi tantas e agora é refém de um tempo cruel, que escorre sem que ela se dê conta.

Direção: Breno Alvarenga e Luiza Garcia.