Panorâmicas de uma terra, a voz de uma personagem. Pronto, já estamos imersos no universo de Benzedeira em poucos segundos. Com destreza, a obra convida o espectador, já desde o seu início, a mergulhar na rotina silenciosa e tranquila da Benzedeira Maria do Bairro, também conhecida como Manoel Amorim. Para entregar os detalhes tão íntimos, de uma vida pacata, dedicada à natureza e a cura, San Marcelo e Pedro Olaia investigam esse mundo com suas câmeras.
Durante 15 minutos de projeção, vemos na decupagem de Marcelo e Olaia o desejo de revelar as facetas plurais de Maria. A montagem de Marcelo contribui para esta impressão de que se vê todos os lados do corpo e face da personagem principal. Nos planos gerais, os pequenos ruídos escutados, mesclados com a voz de Maria, constroem uma atmosfera quase imersiva naquela realidade.
Já nos quadros mais fechados, o público examina esse rosto sereno e de olhar tranquilo. O documentário, assim, consegue, trazer com sua direção e roteiro, a proximidade e o distanciamento necessários para que seja construída uma narrativa que deixa a sensação de completa. O espectador pode sair da sessão com a sensação de que conhece aquela Benzedeira e se sentir um tanto curado por ter escutado as suas frases otimistas, como “Ô vida boa”.
Porque, na verdade, apesar de apresentar bem a maior parte dos elementos técnicos, o que fica marcado na mente de quem assiste é a figura de Maria do Bairro, suas vivências, suas escolhas incomuns e sua ternura. É bem verdade que nenhum filme deve se valer apenas de suas personagens interessantes. Diversos documentários, por exemplo, acabam perdendo sua qualidade por confiarem “apenas” no poder das figuras centrais de suas produções. Este não é o caso aqui.
Há uma consciência da equipe de quem é Maria/Marcelo e os elementos técnicos do audiovisual entram para corroborar com a construção deste imaginário de quem esta figura é. É sempre importante não perder de vista que todos os recursos devem estar voltados para a narrativa. E é por isso que o curta-metragem se sai tão bem, porque consegue criar toda uma lógica de ambientação, que vai deste macro até o micro.
Assim, Benzedeira é um doc que marca pela empatia por Maria e o olhar para ela, que é efetivo em fazer o espectador se conectar com aquele enredo. Talvez, para ser um pouco melhor em seu intento, San Marcelo pudesse ter chamado um diretor de fotografia. Porque com tantas funções dentro da produção, algumas cenas tiveram algumas quedas qualitativas por questões de iluminação. De certo, se houvesse também uma finalização, com correção de cor, o resultado seria um tanto melhor? Todavia, a totalidade não é comprometida, porém poderia ser ainda melhor.
Direção: San Marcelo e Pedro Olaia