Força, protesto e resgate. Em onze minutos de Alexandrina – Um Relâmpago, a diretora Keila Sankofa faz um belo manifesto, no qual a sua protagonista, que dá nome ao filme, ganha uma nova imagem para adentrar na história novamente com toda dignidade e honra que merece. Alexandrina foi uma mulher negra da Amazônia, que esteve presente em diversas expedições no local e conhecia muito sobre a fauna e flora brasileira. A jovem nasceu livre, mas trabalhava fazendo serviços doméstico na Casa Grande. A sua história foi resgatada por um projeto chamado Direito à Memória. Lá, podem ser encontradas mais informações sobre esta mulher tão forte e tantas outras também.
Mas, o foco de Sankofa em seu documentário é a imagem. No passado, Alexandrina fora retratada por brancos. No desenho, o seu rosto está triste, insatisfeito. E é este ponto de partida de Sankofa, que deseja trazer uma nova face para Alexandrina, mas também resgatar o poder de toda uma população, tomando frente do projeto e sendo aquela que registra cada frame. A contraposição do início da projeção – na qual são reveladas fotografias antigas de pessoas pretas-, com o olhar contemporâneo e empoderado de Keila Sankofa é bastante intenso.
Isto porque é perceptível nas escolha da diretora de decupagem e mise-en-scène o destaque que ela deseja dar para uma representação positiva, que contém força, ancestralidade e beleza, com planos abertos, com danças e performances ou nos closes com rostos felizes, que exalam uma energia de confiança e segurança. Um exemplo são os cortes descontínuos que intercalam quadros bastante fechados de um peixe e suas escamas, com este rosto coroado, que está centralizado na tela, que ri, gargalha e olha diretamente para a câmera.
Neste momento, com estas imagens que se misturam no ecrã, a artista ocupa este espaço para colocar sentidos tão ricos e plurais, em tão poucos segundos. Camadas, escamas, resiliência, ressignificação e uma nova verdade estabelecida. Na narração, uma das frases que mais chamam a atenção é: “Eu não estava sozinha em nenhum momento”. Por isso, os símbolos nos objetos trazidos por Sankofa também são muito poderosos. Há muito da natureza e dos orixás dentro da narrativa.
No vestido de Keila, que balança com o vento, nos sons de raios, na espada, no carmim, no relâmpago que está inserido no título. Ou, também, nas árvores, na mata, nos pés que pisam na terra, nos corpos que se banham no rio e se reconhecem e se enxergam de maneira cristalina, como a água que os banha. Alexandrina – Um Relâmpago é um curta-metragem que mexe com os sentidos, em seus sons, texturas e imagens. É um relâmpago, de fato. Vem da luz, das nuvens carregadas de energia e do vento.
Direção: Keila Sankofa
Elenco: Keila Sankofa, Maria Tucandeira, Jéssica Dandara
Assista ao trailer!