Azulscuro

25ª Mostra de Cinema de Tiradentes: Azulscuro

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Existem muitos riscos corridos dentro de Azulscuro. Um deles se dá pelo fato da verticalização da tela durante toda a sua duração. O que é assumido como estratégia, poderia ficar cansativo ou repetitivo, mas aqui funciona por dialogar o objetivo principal da obra: o de colocar o público mais próximo da perspectiva da personagem principal. A escolha de convocar a ideia de que se está acompanhando tudo que aparece na tela do celular da protagonista, Sofia (Larissa Bocchino), o tempo inteiro, remete ao clássico A Bruxa de Blair (1997) ou até mesmo ao recente Host (2020).

O fato é que este tipo de estratégia também pode falhar por evocar alguma artificialidade, por não sustentar a tensão necessária ou por esvaziar o sentido da própria narrativa. Neste curta-metragem de terror mineiro, tudo que há é suspensão. Desde o início do filme, a construção da atmosfera de medo é bem elaborada. A utilização da figura mística ao fundo de Sofia, as luzes que falham ou a expectativa de uma mensagem de celular, que pode ser assustadora, as estratégias para criar progressão nos acontecimentos e a instalação do pânico em Sofia funcionam.

As seleções dos enquadramentos e as escolhas de iluminação são as chaves para que os efeitos alcancem os resultados desejados. A estrutura do roteiro também fomenta esta característica da produção.  O arco de Sofia e o seu conflito por não saber o que realmente ocorreu com sua irmã – que morreu de forma misteriosa – são trabalhadas de tal maneira para que espectador vá descobrindo o que é este fenômeno sobrenatural, juntamente com ela. Não há nada de novo aqui, porém são caminhos antigos utilizados conscientemente.

O único problema em Azulscuro, que acaba por comprometer a sua qualidade, é que em toda a compreensão de decupagens de obras de terror e de construção de universo ficcional, o foco para o enredo vai se perdendo. O que os roteiristas Evandro Caixeta – também um dos diretores aqui – e André Oliveira queriam contar? Para além dos sustos e de deixar a plateia nervosa em seus quinze minutos de projeção, qual é verdadeiramente o conflito de Sofia e Alice e para qual local esta história quer chegar?

Em meio aos jogos de luzes e diálogos sobre uma ameaça que está por vir, da figura demoníaca e dos textos com frases de impacto, a obra parece vazia de sentido concreto. No final das contas, o pavor se dissipa ao final da sessão e torna a experiência menos prazerosa, justamente porque parece que o curta não sabia com o que estava lidando e a sua conclusão acaba por fomentar isto. Chega a ser um tanto bobo seu encerramento de Azulscuro, que tenta deixar um espaço para que quem assista complete o enigma, porém faltaram peças durante exibição para que a estratégia funcionasse.

Direção: Evandro Caixeta e João Gilberto Lara

Elenco: Larissa Bocchino, Lavínia Bocchino