“Criatura, a vida é doce, mas não é mole não
É pôr a mão na massa e começar de novo Tijolo por tijolo eu vou quebrando pedra”.Personagens. Elas são as almas das ficções. No documentário, muitas vezes, é tudo que uma produção tem. Aqui, esse não é exatamente o caso. Ainda que a família central da história seja cativante e emocionante, há um zelo da direção (Victoria Alvares e Quentin Delaroche) em criar estratégias visuais na decupagem do longa-metragem. Seja com formatos distintos, com movimentações ou efeitos de câmera, a rotina de Cris Martins, seu marido e filhos é colocada de tal forma, que o especador se sente íntimo daquela realidade.
Um dos caminhos certeiros para que esta sensação aconteça é o agenciamento que a equipe dá para os protagonistas de Tijolo por Tijolo. Seja pelas imagens gravadas pelo garoto Caíque ou pelo uso dos stories de Cris e Albert, o olhar é entregue também para quem centraliza a narrativa, fazendo com que não apenas a observação externa da família principal seja observada, mas como a própria visão deles sobre eles mesmo.
Amarrado ao visual, há o discursivo que é orgânico e, ao mesmo tempo, conduzido. As complexidades das figuras dramáticas são notadas em inserções que se completam. Há a lamentação pela demolição do primeiro lar do casal, há a presença do uso de máscara e menções à pandemia, o desafio de Cris de estar na quarta gravidez e precisar lutar para conseguir realizar a sua sonhada laqueadura.
No entanto, também é possível acompanhar as brincadeiras das personagens, seus momentos de alegria – como quando conseguem ligar a energia elétrica do segundo andar da casa que estão construindo -, de fé, na passagem no culto, do nascimento da nova filha, das comidas doados para quem tem fome. Todos estes instantes constroem sentido e não é preciso criar nenhum cenário marcado por falas que reiterem absolutamente nada.
Nos silêncios ou em frases pontuais presentes nos relatos do filme que o caráter de Cris e seus familiares saltam na tela, bem como a dedicação que eles possuem um com o outro. A união é revelada justamente dentro da seleção da equipe sobre o que convocar para o ecrã sobre aquelas vivência. São as escolhas que são fundamentais para a plateia, porque cria uma trama equilibrada, na qual existem as suspensões, com clímaxes e os desenlances. A ideia de um documentário consciente sobre cinema é um traço qualitativo mais importante de Tijolo por Tijolo.
Porque não adianta ter algo curisoso para contar ou personagens cativantes, se a tecnicidade é deixada de lado. Com um roteiro estruturado em sua lógica de narrativa e uma decupagem que direciona o olhar de quem assiste para a análise e aproximação com o enredo colocado em voga, que o longa possui um resultado geral positivo. Ainda que falte evidenciar as sombras das persongaens, essa escolha no compromete a sessão.
Tijolo por Tijolo é louvável por conseguir mesclar tantos contextos e emoções em um só projeção, fazendo-o de forma, aparentemente, consciente. Quando isto ocorre, bons documentários são entregues! Assim, fica o desejo de ver este entendimento se espalhar dentro do audiovisual como um todo, para que histórias boas sejam contadas e como serão contadas não seja deixado de lado.
Direção: Victoria Alvares, Quentin Delaroche
Elenco: Cris Martins, Albert Ventura, Caique de Souza Ventura
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