Tem filmes que conversam com nossa alma, como se eles se conectassem com pontos específicos das nossas necessidades ou memórias afetivas. Encontro Marcado (1998) se encaixa justamente nesta categoria. Era um dos filmes favoritos de meu avô, a quem devo toda a minha paixão pelo cinema. Lembro que assisti quando era pequena (na época de seu lançamento eu tinha apenas 8 anos), mas naturalmente não absorvi os detalhes. Revendo aos quase 30 anos, vejo que meu avô tinha suas razões em adorar este longa.
Meet Joe Black (título original) conta a história de Bill Parrish (Anthony Hopkins, Dois Papas), um magnata da comunicação que está prestes a fazer 65 anos e terá uma grande festa promovida pelas filhas. Ele começa a ouvir vozes que ficam sussurrando palavras soltas no seu ouvido. Até que finalmente encontra com Joe Black (Brad Pitt, Era uma Vez em… Hollywood), que é ninguém menos que a Morte. Ele chega afirmando que está ali para levá-lo mas, como pretende conhecer os hábitos dos humanos, propõe retardar esta partida se o bilionário tornar estas “férias” interessantes e instrutivas.
A partir daí, se inicia uma longa trama de construção da relação entre os dois personagens, detalhada e cuidadosa. Bill é extremamente apegado às filhas, Susan (Claire Forlani, A Cinco Passos de Você) e Allison (Marcia Gay Harden, Na Natureza Selvagem). A primeira é médica e favorita do pai, enquanto a segunda se dedica à família e convoca sempre a atenção paterna. Susan está prestes a casar com um dos braços direitos do pai e sente que a vida a está empurrando em direções. Ao conhecer um jovem numa cafeteria, tem um súbito envolvimento que vai mudar a sua vida.
À medida que o longa vai se desenvolvendo e caracterizando seus personagens, o espectador vai se envolvendo em uma trama de relacionamentos e questionamentos sobre o que de fato é importante na vida. A Morte parece muito interessada em conhecer a rotina dos humanos, enquanto esses parecem focar mais na ambição do que nas pequenas e importantes coisas. O filme trilha sem pressa este caminho. Sim, são 3h de duração para um filme de drama com romance, mas posso te afirmar que cada minuto é válido. Talvez a minha preferência por temáticas monótonas interfira nesta opinião? Sim. Mas acredito que o tempo alongado não chega a incomodar.
Pontuado com momentos de humor, o roteiro tem uma preocupação maior de fazer o espectador sentir todas as emoções que são experienciadas pelos personagens. Tudo isso é graciosamente beneficiado por uma trilha sonora incrível performada pelo compositor Thomas Newman, que teve destaque em vários longas, como Perfume de Mulher. Dito isso, os leitores mais vorazes do Coisa de Cinéfilo já devem notar o quanto a trilha sonora é importante para mim. Encontro Marcado brilha neste quesito e vocês entenderão o motivo ao assistir ao longa.
Assistimos a desconstrução do propósito da Morte, que acaba se apaixonando perdidamente por Susan, dando início a uma grande paixão e todas as suas problemáticas. O envolvimento deles é bem construído e cuidadoso. Aliás, a excelente construção dos coadjuvantes contribui muito para o destaque das histórias principais. É o caso do ótimo Quince, vivido por Jeffrey Tambor (A Morte de Stalin).
Com um elenco fantástico e afiado, as composições dos personagens parecem muito naturais. A eminência da morte e o fácil convívio com ela mesma pondera a percepção de importância das pequenas coisas, como os abraços de filhos, desfrutar de seu prato favorito e ouvir uma boa música. O fim parece pouco surpreendente por um lado, mas acalenta ao público de outro. É emocionante e intenso. Talvez um pouco apelativo com sua grandiosidade? Sim. Mas Encontro Marcado como um todo é assim e não vejo isso como demérito e sim, uma característica. Assista e se apaixone!
Direção: Martin Brest
Elenco: Brad Pitt, Anthony Hopkins, Claire Forlani, Marcia Gay Harden, Jake Weber, Jeffrey Tambor, June Squibb
Assista ao trailer!