Segredos do Passado

Crítica: Segredos do Passado

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Com Segredos do Passado, o cineasta australiano Robert Connolly (de Sonhos de Papel) oferece para o público uma trama familiar protagonizada por um policial que acerta as contas com o passado ao retornar para sua cidade natal no interior da Austrália. O suspense com grande preocupação no desenvolvimento do arco de redenção do seu protagonista pode até soar batido na sua premissa e até frustra o espectador pelas suas resoluções, mas tem o mérito de fisgar sua atenção desde o princípio e de trazer um ótimo momento para o ator Eric Bana, subaproveitado nos cinemas após seus primeiros bons anos com longas como Hulk (2003), Troia (2004) e Munique (2005).

Em Segredos do Passado, Bana interpreta o policial Aaron Falk. Ele retorna para sua cidade natal depois de anos afastado para prestar homenagem e dar suas condolências à família de um amigo de infância morto de maneira brutal. O morto é acusado de ter cometido suicídio logo depois de matar a própria esposa e filho. Falk é convocado pelos pais do morto para investigar o caso e acaba confrontando novamente o julgamento de pessoas da cidade que suspeitam até hoje do seu envolvimento na morte de uma namorada de adolescência.

Baseado no romance de Jane Harper, Connolly conduz a história de um homem tentando recobrar a sua honra. A partir do crime que se apresenta ao espectador no início de Segredos do Passado, o protagonista encontra uma oportunidade de extirpar de vez algumas dúvidas que ele mesmo tem sobre o seu passado gatilhadas pelas suspeitas envolvendo o seu amigo de juventude. Como transita o tempo todo entre linhas do tempo, o longa recorre com uma certa constância a flashbacks que atravessam a investigação das mortes mais recentes. Nas mãos de um cineasta menos habilidoso, o flashback poderia ser um incomodo em Segredos do Passado, mas como há dois mistérios a serem desvendados e Connolly os conduz com uma tensão crescente, o recurso narrativo flui de maneira orgânica. O único ponto em falso desses flashbacks é a escalação de Joe Klocek para interpretar a versão jovem do personagem de Eric Bana quando ele não se parece em nada com o ator.

Segredos do Passado

O que também funciona muito bem em Segredos do Passado é a interpretação do próprio Eric Bana. O título original The Dry é uma referência ao clima e à geografia seca da região que serve de cenário para o filme, mas também pode ser interpretado como uma referência ao estado do seu protagonista desde os traumáticos eventos da sua juventude. Como era de se esperar em casos como o seu, ele é um sujeito que parece profundamente afetado por questões mal resolvidas da adolescência, ainda assim, aparenta sublimá-las quando dá continuidade a sua vida. Bana traz para Aaron Falk uma concentração, equilíbrio, controle e ponderação que destacam no profissionalismo com o qual encara seu ofício um instrumento de cura emocional ou disfarce dos eventos da sua juventude.

É uma pena que, com tantos predicados, a história não seja capaz de entregar para o público e para seus personagens os desfechos mais satisfatórios. O desenlace dos dois casos investigados pelo protagonista vai para caminhos rasos, o que enfraquece um pouco a ótima execução vista durante boa parte da produção. Há tempo para se redimir. Com o sucesso boca a boca de Segredos do Passado, já existe uma continuação adaptada de outra história de Jane Harper e que também foi comandada por Robert Connolly e protagonizada por Eric Bana retornando como o agente Aaron Falk chamada Force of Nature com previsão de estreia para 2023.

Direção: Robert Connolly

Elenco: Eric Bana, Genevieve O’Reilly, Keir O’Donnell

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