Fúria Primitiva (2024)
Dev Patel em cena de 'Fúria Primitiva' (2024)

Crítica: Fúria Primitiva

Crítica: Fúria Primitiva
3.8

Enfim chegou o dia do público conhecer outra faceta de Dev Patel (A Lenda do Cavaleiro Verde, de 2021, e A Incrível História de Henry Sugar, de 20233). Fúria Primitiva marca a estreia do artista britânico como diretor e roteirista de um longa-metragem e ele não poderia ter tido um primeiro projeto mais interessante. Com estreia marcado nos cinemas brasileiros para esta quinta-feira (23), o longa de Patel é uma feliz prova do seu talento para além da arte da interpretação.

Fúria Primitiva é uma eletrizante história de vingança repleta de camadas sociais e políticas costuradas por sua narrativa. O roteiro, que vem de uma história de Patel, foi co-escrito por ele, Paul Angunawela e John Collee. O trio de roteiristas conseguiu desenhar um texto denso, potente e representativo. Ainda que seu foco seja na busca pela vingança do personagem principal, o roteiro consegue amarrar pontos relevantes da política na Índia.

Sem desmerecer os dilemas sociais e políticos do país, a narrativa tem uma clara missão de ser uma espécie de John Wick (2013-) com camadas mais trabalhadas. Não só pela presença dos elementos de ação, luta e dinâmica do filme, mas Fúria Primitiva instiga o público a acompanhar uma motivação muito similar. Esse desejo inato e um tanto selvagem de fazer justiça com as próprias mãos ressoa em ambas produções – ainda que no longa de Patel venha coberto com contextos que dialogam com problemas reais do país.

Ao trazer elementos similares aos da franquia estrelada por Keanu Reeves (John Wick 4: Baba Yaga, de 2023), Fúria Primitiva abraça o público de ação, ao mesmo tempo em que desenha uma trama que permite um mergulho um pouco mais profundo nas motivações dessa vingança. A jornada do personagem principal até se tornar o verdadeiro Monkey Man (título original) vai além de ser apenas um produto da violência que lhe foi afligido. As vidas que esbarram na dele constroem mais e mais camadas para elevar sua narrativa justamente por ressoarem nele e em sua constante evolução.

Fúria Primitiva (2024)
Dev Patel em cena de ‘Fúria Primitiva’ (2024)

Regado de cultura e ancestralidade, o desenho dessa jornada do herói (não tão heroica assim) é estrelado por ninguém mais, ninguém menos que o próprio Dev Patel. Assim como diretores a exemplo de Clint Eastwood (Cry Macho: O Caminho para a Redenção, de 2021), o ator e cineasta britânico se divide bem entre o papel da direção e da interpretação. Na verdade, ele consegue ir além. Ele é o filme em todos os níveis que se pode imaginar. Fúria Primitiva é potente, lindamente doloroso e verdadeiro graças ao desempenho total de Patel.

Todas essas forças narrativas, de produção e contextos são envelopadas com uma visualidade bem interessante. O trabalho da arte e da fotografia são claros diferenciais na produção. Há uma preocupação em desenhar essas cores, dores e amores que revestem a história. Existe um coração que pulsa nessa produção e isso é arrebatador. Não há como o espectador sentar em uma poltrona de cinema e passar por uma sessão de Fúria Primitiva sem perceber essa potência de talento, representação e profundidade.

Para completar esse envelopamento que, por si só, já chama atenção, o filme ainda é co-produzido pela Monkeypaw Productions, do ilustre Jordan Peele (Não! Não Olhe!, de 2022). Assim, a chancela de qualidade só aumenta e cria ainda mais expectativas no público. Nesse caso, para a alegria dos investidores e de quem vai assistir, essas impressões criadas sobre o filme serão realizadas com louvor. Dev Patel, em seu longa de estreia, conseguiu entregar um clássico arco de jornada do herói bem desenhado, dirigido e executado. Fúria Primitiva é tudo o que se esperava e falava – e muito mais.

Direção: Dev Patel

Elenco: Dev Patel, Sharlto Copley, Pitobash, Vipin Sharma, Sikandar Kher, Adithi Kalkunte, Sobhita Dhulipala, Ashwini Kalsekar, Makarand Deshpande, Jatin Malik e Zakir Hussain

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