Conforme Deixe a Neve Cair avançava, eu não parava de me indagar: por que um filme de Natal sendo lançado tão cedo? Posteriormente, como se ouvisse minha voz interior, a narração onisciente de Joan Cusack (Será que Ele É?) responde: “A neve pode fazer a diferença! Especialmente na véspera de Natal! E às vezes não só na véspera de Natal, é na véspera de tudo, do resto de sua vida”.
Desde o início, o longa baseado no livro de John Green (A Culpa é das Estrelas) e dirigido pelo estreante Luke Snellin assume um tom fabular. Afinal, não costuma nevar na pequena cidade Laurel, em Illinois. Porém, trazendo sorte e novas oportunidades, ela decidiu cair em 2019. Assim, os jovens desta região são contagiados por este clima otimista e decidem enfrentar seus problemas. Keon (Jacob Batalon, Homem-Aranha: Longe de Casa) quer seguir a carreira de DJ; Tobin (Mitchell Hope, Descendentes) é apaixonado por Angie (Kiernan Shipka, O Mundo Sombrio de Sabrina); Addie (Odeya Rush, Lady Bird) é uma namorada possessiva; Dorrie (Live Hewson, Santa Clara Diet) é apaixonada por uma menina que esconde sua sexualidade; e o cantor em ascenção, Stuart (Shameik Moore, Homem-Aranha no Aranhaverso), conhece a simples Julie (Isabela Merced, Sicario – Dia do Soldado).
Como ficou claro pela quantidade de personagens, Deixe a Neve Cair tem a missão de contar diversas histórias paralelas. Ainda que cada subtrama possua seu obstáculo e resolução bem definidos, a montagem é problemática ao tentar criar uma homogeneidade e uma unidade geral. Como cada personagem disputa com o outro a atenção do espectador, a constante mudança entre suas aventuras sabota o nosso envolvimento com cada uma delas. Neste caso, fica a impressão que uma série antológica, com um episódio para cada jovem, seria mais eficiente.
Além disso, uma outra consequência desta falta de harmonia, é que surge uma sensação de que certas jornadas são mais “protagonistas” do que outras, principalmente o romance entre Tobin e Angie. De mesmo modo, com exceção da lanchonete Waffle Town, não há nenhum elo de conexão entre tais acontecimentos paralelos. Por outro lado, seria possível dizer que há, pelo menos, um tema comum: a autoaceitação e o amadurecimento para chegar amor.
Neste sentido, Snellin consegue assumir bem o tom de Sessão da Tarde de Deixe a Neve Cair, colocando seus personagens para enfrentarem problemas que os amadureçam, mas sem perder aqui o foco infanto-juvenil, como a perseguição de carro ou a partida de hóquei. O que o diretor não consegue, no entanto, é explorar mais deste caráter de fábula que ele propõe criar desde o início do filme. Com uma direção e ambientação bastante protocolares — o que até reforça esta dimensão de filme para televisão — são poucos elementos, além da neve, que indicam a “mágica” que o roteiro insiste em assumir. No máximo, apenas pequenas sutilezas, como o figurino de mago de Tobin ou a misteriosa personagem de Joan Cusack, que parece um anjo caído do céu.
Por conta um competente elenco que traz essa leveza e inocência que um filme natalino com ares mágicos pede, Deixe a Neve Cair consegue ter um mínimo de carisma. Justificando sua ida diretamente para o serviço de streaming, ele se enrola em suas próprias subtramas, além da falta originalidade. Fica a impressão de que a Netflix consultou em seu algoritmo temas universais e atuais que as pessoas querem assistir. Abordando assuntos que vão desde a alienação causada por celulares até relacionamentos LGBT — que chegam a ter sua superfície arranhada mas não são devidamente aprofundados — é como se o filme fosse uma árvore de Natal coberta de enfeites e adereços, mas falta a estrela no topo que dá a harmonia ao todo.
Diretor: Luke Snellin
Elenco: Jacob Batalon, Mitchell Hope, Kiernan Shipka, Odeya Rush, Live Hewson, Shameik Moore, Isabela Merced, Joan Cusack
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