Quando fora lançado nos cinemas em 2002, a comédia romântica Casamento Grego foi um grande sucesso comercial que poucas pessoas esperavam. Sem grandes astros no seu elenco, sobretudo no papel da sua heroína Toula Portokalos, o filme contou apenas com o apadrinhamento de Tom Hanks e sua esposa Rita Wilson, que produziram a fita, e com o “boca-a-boca” que a sua estreia gerou entre o público. Escrita pela própria Nia Vardalos, que dava vida a personagem principal do longa e assim como Toula era descendente de gregos, Casamento Grego era uma peça de teatro que abordava o conflito cultural e de gerações instaurado na casa dos Portokalos quando uma filha de gregos anuncia para a sua família que pretende se casar com um professor norte-americano. Dos palcos para as telonas, também sob a escrita de Vardalos, a comédia era centrada no romance vivido por sua protagonista com o personagem de John Corbett, mas também tratava com humanidade o humor inerente ao conflito causado pela decisão de Toula em seu enorme núcleo familiar residente nos EUA. Além da bilheteria, o filme possibilitou que Vardalos se transformasse em um nome conhecido do grande público e abocanhasse uma indicação ao Oscar de melhor roteiro na cerimônia de 2003.
Quatorze anos depois do primeiro filme, a sua tão aguardada (e gestada) continuação enfim chega aos cinemas e se o resultado está longe de ser decepcionante, também não é dos mais memoráveis ao se afastar em definitivo de elementos que garantiram o sucesso do primeiro longa. Em Casamento Grego 2 somos apresentados a um conflito de ordem geracional semelhante àquele vivido por Toula no filme de 2002. O foco das discussões familiares, agora é a filha adolescente da personagem, Paris, fruto do seu casamento com Ian. Paris chega a uma idade na qual começa a demonstrar sinais de incomodo com a interferência da sua numerosa família em diversas situações da sua vida social no colégio. Ao mesmo tempo, um novo casamento envolvendo os membros da família Portokalos começa a ser pensado tornando-se motivo para mais uma barulhenta reunião familiar.
O grande problema de Casamento Grego 2 é que apesar de revisitar determinadas temáticas presentes no primeiro filme, o longa, que também ganha um roteiro escrito por Nia Vardalos, mas sua direção sai das mãos suaves de Joel Zwick para cair na batuta exagerada de Kirk Jones, do terrível O que Esperar quando você está Esperando, se perde por completo no seu tom. Assim, mesmo que os conflitos da jovem Paris com os seus familiares nos remeta às próprias inquietações de Toula no primeiro longa, esse segundo filme prefere privilegiar um elemento que era bastante presente no filme de 2002, mas tratado na época com sutileza em dosagens homeopáticas e respeitosas, os curiosos hábitos do clã Portokalos. Ao priorizar esse elemento, em detrimento de um olhar mais humano para os seus personagens e que encontrasse o humor nas suas situações cotidianas, conferindo uma organicidade a comédia, Casamento Grego 2 opta pelo tom histriônico ao tratar os seus personagens gregos como figuras simplificadas por suas características, tratadas como excentricidades e não respeitosamente como hábitos culturais, como acontecia de maneira tão responsável no primeiro longa.
Revelando-se completamente descartável e dissonante se o compararmos ao primeiro filme, Casamento Grego 2 é um longa que se equivoca ao não compreender que o que garantira a singularidade do filme de 2002 era o seu tom agridoce e a forma como conseguia imprimir com naturalidade suas situações engraçadas. A continuação da comédia prefere o caminho mais fácil e frágil, apelando para o exagero e para as caricaturas que vencem pelo berro e pelo humor simplificado. É certo que alguns lampejos de preservação do “espírito” do primeiro longa garantem que essa continuação renda algum interesse da sua plateia, sobretudo aquela que é apaixonada pelo trabalho de Vardalos e sua equipe em 2002, mas, no geral, tudo se perde em meio aos exageros de personagens conhecidos que se transformam em figuras histéricas, em alguns casos, irreconhecíveis.