Sendo adaptado de uma peça teatral da Broadway de mesmo nome, American Son não deixa de ser uma extensão deste espetáculo. Primeiramente, porque o elenco e o diretor são os mesmos. Não só isso, como ele também se passa todo em um único cenário, na infindável sala de espera de uma delegacia de polícia. Assim, é claro que toda sua força está nas atuações e nos diálogos, em detrimento dos outros elementos cinematográficos.
Kendra (Kerry Washington, a Olivia Pope de Scandal) é uma mãe que, após seu filho adolescente ter desaparecido de casa, vai até uma delegacia. De madrugada, ela aguarda ansiosamente em uma sala de espera vazia até a chegada do detetive principal, enquanto o burocrático recruta Paul (Jeremy Jordan, Supergirl) esgota sua paciência. Contudo, mais do que os trâmites legais e o tédio, a tensão racial vai se escalando naquele ambiente, uma vez que ela é negra e o oficial é branco.
Similarmente ao longa Fratura, American Son cria um ambiente bolha que faz emergir um sentimento claustrofóbico e de agonia naquele que está assistindo. Tudo é muito limpo e vazio. Não há nenhum barulho, além da constante chuva que bate na janela e os esporádicos raios que iluminam o cenário. Assim, a espera de Kendra — que já é longa — parece infindável naquela sala higienizada e opressora.
Logo, essa simplicidade no design de produção faz com que o público não se distraia do que realmente importa: a história e as atuações. Neste sentido, a direção de Kenny Leon vai alternando entre planos fechados, quando se exige maior emoção dos atores, ou abre a câmera, mostrando toda a sala, quando a movimentação dos personagens importam. Cada passo aqui é calmamente calculado, como em um jogo de xadrez.
Após o estabelecimento de toda essa simplicidade técnica e minimalista, o peso é completamente transferido para os diálogos. Cada frase repleta de racismo estrutural ganha um impacto maior ainda. Por outro lado, apesar de ser um personagem naturalmente caricatural, há também uma ingenuidade típica do policial caucasiano, que não tem ideia da força de suas palavras, algo visível na atuação de Jordan.
Ainda em atuação, a força que Kerry Washington carrega é extremamente impactante. Tanto a maneira como reage a cada fala racista dita, como se não acreditasse no que estivesse ouvindo, quanto como sua luta interna para não perder a paciência e o controle, mostram esse contraste força-fragilidade da protagonista.
Não há dúvidas de que American Son é um filme-denúncia e, até por isso, a teatralidade e as atuações bastante dramáticas contribuem para aumentar a tensão narrativa gradualmente até seu ápice catártico no terceiro ato. É uma obra que quer postergar sua mensagem para além do filme e que suas palavras se prolonguem no espectador após os créditos surgirem.
Enfim, é como a espera naquela sala estivesse fora de uma dimensão temporal definida. É interminável e desesperador, como se o relógio estivesse parado. Ao mesmo tempo, há um conforto oculto naquele palco teatral que permite a protagonista extravasar toda sua dor e sofrimento. Enquanto a notícia definitiva não chega, seu filho pode estar tanto vivo quanto morto, e é essa dualidade que move American Son. É um grande gato de Schrödinger.
Direção: Kenny Leon
Elenco: Kerry Washington, Steven Pasquale, Jeremy Jordan, Eugene Lee
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