Crítica: Tau

O serviço de streaming Netflix é o líder em seu mercado. Com uma história visionária escrita através de inovações contínuas, a empresa se provou como um sucesso de mercado desde seu princípio. Atualmente, a Netflix é conhecida por suas séries originais as quais são líder de audiência – dentre elas Stranger Things, Orange is the New Black, Sense8, 13 Reasons Why, House of Cards, Jessica Jones e Black Mirror. Ou seja, a empresa é uma fábrica de seriados rentáveis dos mais diversos gêneros. O streaming, por outro lado, não é muito reconhecido graças as suas produções fílmicas. Muito pelo contrário, os filmes originais da Netflix costumam ser alvos de altas críticas.

Como é toda embasada num sistema de informações e conteúdos voltados para cada cliente, a Netflix faz uma análise das preferências de seu público. E é a partir desse estudo que o streaming tem uma estatística dos gêneros com maior audiência e, por algum motivo desconhecido (e estúpido) eis que a empresa decide unir esses dados e criar filmes a partir daí. Ou seja, muitos dos longas-metragens produzidos pela Netflix são verdadeiros Frankensteins estatísticos. Uma vez tendo isso em mente, é muito mais fácil de se compreender a problemática que recai sobre os longas da empresa de streaming.

2018 não foi um atípico para as produções cinematográficas da Netflix. Dívida Perigosa, The Titan, Lá vem os pais e Perda total são alguns dos principais exemplos de fracassos lançados neste ano. Críticas avassaladoras, insatisfação por parte do público e a dúvida que sempre permeia a questão: será que ninguém percebe que eles estão insistindo no mesmo erro? Mais recentemente, por exemplo, foi lançada uma nova ficção científica. Resumidamente, Tau (título do projeto) é uma sequência de decepções, principalmente por ser possível ver certo potencial na narrativa – potencial este que obviamente foi desperdiçado.

Num futuro não tão distante, a jovem Julia (Maika Monroe) é sequestrada por um desconhecido no meio da noite. Ao acordar, ela percebe que agora está sendo mantida em cativeiro para algum tipo de experimento que pode custar a sua vida. Ao tentar escapar, a jovem é detida por Tau, a inteligência artificial avançada que controla toda a casa de seu criador, Alex (Ed Skrein) – cujo também é o sequestrador. Para conseguir escapar de um destino fatal, Julia terá que enganar a casa e o cientista para conseguir um final diferente das outras cobaias do experimento – tudo isso antes que sua curta estada na casa inteligente acabe.

Como a sinopse já esclarece – ou até mesmo o trailer – Tau nada mais é do que uma colcha de retalhos de várias obras cinematográficas que deram certo. Elementos de 2001: Uma odisseia no espaço (1968) A.I. – Inteligência Artificial (2001), Jogos Mortais (2004), Cubo (1997), e até mesmo da comédia científica A casa inteligente (1999) são misturados de uma maneira desregular e confusa dando aos assinantes da Netflix mais uma frustrante produção. Com a estreante Noga Landau comandando o roteiro do filme, Tau foi um início de carreira começado com o pé esquerdo. Sua narrativa é confusa, fraca e entediante. O espectador se sente cansado ao ver tantos elementos repetidos. O excesso de inspirações faz dessa história um disco arranhado que não tem mais conserto. O computador inteligente que muito lembra o HAL 9000; a vontade da máquina de se transformar em humano; o aprisionamento daqueles que não tem apreço pela vida; as loucas experiências tecnológicas que usam pessoas comuns para seus fins; e a casa inteligente e high-tech que prende pessoas em sua propriedade. Não existe um elemento que entrelace tudo isso para criar um bom resultado.

Para piorar, o talentoso artista de storyboards da Marvel, Federico D’Alessandro – o qual trabalhou em Onde Vivem os Monstros (2009), Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), Homem-Formiga (2015) e Doutor Estranho (2016) – estreou como diretor de uma maneira completamente esquecível. Seu direcionamento como maestro dessa obra é tão falho quanto o roteiro, levando Tau à um final ainda mais trágico. Para completar a orquestra do horror temos os personagens principais. Os personagens Julia, Alex e Tau são algo fora do comum. A atriz americana Maika Monroe (Corrente do Mal, de 2014) claramente se esforça ao máximo para mostrar o seu talento ao viver sua personagem insossa e nada carismática. A jovem revelação do terror dirigido por David Robert Mitchell nada contra a corrente para melhorar a dinâmica das cenas, contudo o roteiro e seu opositor – interpretado pelo robótico Ed Skrein (Deadpool, de 2016) – não ajudam a garota em nada. Para completar, todo o alvoroço causado pelo nome do extraordinário Gary Oldman no pôster de divulgação não serve de nada. O ator inglês empresta a sua voz para o robô que dá nome ao longa e, apesar de seu talento indiscutível, nem mesmo Oldman foi capaz de salvar o fiasco que embarcou.

No fim do dia o que a Netflix entrega é mais um trabalho sem pé nem cabeça. Mais uma produção cujo potencial é deixado de lado para dar espaço a construções estatísticas. Um verdadeiro caldeirão de elementos como esses de Tau não poderia resultar em algo bom. Era preciso muito cuidado e atenção de Landau para não fugir do clichê sem perder a essência da ficção científica. Era preciso mais do que uma tentativa frustrada de ser o Kubrick ou o Spielberg para conduzir bem a produção. E era preciso diálogos fenomenais para compor o esforço nítido de Maika e Gary – e obviamente seria preciso a escalação de um novo ator para incorporar o vilão da trama, afinal de contas já existia um robô na história além de Ed. Contudo, para não se dizer que não há nada de bom nesse longa, o público é salvo pela beleza exuberante das cores e imagens feitas pelo diretor de fotografia Larry Smith (De Olhos Bem Fechados, de 1999, e Só Deus Perdoa, de 2013). Mas nem só de belos fundos de cena vive o espectador, fazendo com que o saldo final seja negativo.

Assista ao trailer!

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