Thunderbolts* (2025)
Cena de 'Thunderbolts* (2025)'

Crítica: Thunderbolts

Crítica: Thunderbolts
3.3

Desde o final da Saga do Infinito com a estreia de Vingadores: Ultimato (2019), o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) não tem tido bons resultados em suas produções. A Saga do Multiverso começou bem com WandaVision (2021), mas logo em seguida começou a se perder pela quantidade de produções e pelos questionamentos sobre sua qualidade. De lá para cá, poucas coisas fizeram sucesso suficiente para convencer o público geral sobre a nova fase da Marvel Studios, assim como não renderam boas bilheterias. 2025, no entanto, chegou com a promessa de ser esse novo momento, iniciado com a estreia de Thunderbolts.

A promessa é de que o novo longa-metragem do MCU, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (1º), seja diferente de tudo que a Marvel já fez. Mas será que é mesmo? Thunderbolts traz a comicidade e a ação esperada de um projeto da franquia, tem as referências a algumas das histórias pregressas que costuram eixos narrativos do filme e se baseiam em alguns personagens já conhecidos dos fãs. Até então, uma estrutura bem básica e comum para o estúdio. Há, contudo, um olhar mais voltado para a construção dos personagens nesse longa do que em outros.

A costura de Thunderbolts é feita a partir justamente da relação desse grupo disfuncional de criminosos anti-heroicos. Isso por si só já é um elemento um pouco diferente do comum por tornar o novo projeto da Marvel guiado por personagens e não pelo problema. Ainda assim, não é como se fosse a primeira vez que isso é feito e nem é a vez mais bem trabalhada. A produção traz um pouco mais de camadas do que é usual nas dinâmicas narrativas do MCU, mas ainda deixa muito a desejar, especialmente quando pensamos no cerne que move as figuras centrais da história.

O roteiro de Eric Pearson (Viúva Negra, de 2021) e Joanna Calo (Rixa, de 2023) se esforça para desvendar um pouco mais das nuances psicológicas dos personagens, especialmente de Yelena e Bob (interpretados, respectivamente, por Florence Pugh e Lewis Pullman). Mesmo com essa preocupação clara, ainda é pouco para o que a narrativa escancara como dilema moral e pessoal para essas personagens. No caso de Yelena e Bob, eles têm claramente indicativos de ansiedade e depressão e isso, ainda que posto, segue na superfície, diante do que Thunderbolts se propõe a ser.

Thunderbolts* (2025)
Cena de ‘Thunderbolts* (2025)’

Quando um filme tem como vilão esse vazio que nos corrói por dentro, é preciso que o projeto mergulhe de cabeça num drama existencial e psicológico. O filme até tenta elencar momentos-chave para debater de forma mais aprofundada esses elementos, mas não tem a força suficiente para isso. A sensação é que Thunderbolts varia de uma comédia ácida da relação disfuncional desses ex criminosos para um drama existencial sensível e delicado que nunca se concretiza de forma plena.

E eis que este é o maior problema de produzir histórias hoje em dia para o MCU. Há muito o que se comparar. Já foram mais de 20 filmes e mais de 10 séries e minisséries e é inevitável que o público esteja cansado de ver as mesmas histórias com roupagens diferentes. Além da repetição, o Universo Compartilhado Marvel sofreu muito com esse excesso de produções nos primeiros anos da Saga do Multiverso, o que reverbera até hoje – e Thunderbolts não consegue sair ileso disso. A fórmula de sucesso da Marvel não parece fazer tanto sentido como em sua primeira década.

Diante de tudo isso, ainda há o fator do controle criativo. Kevin Feige é essa figura que representa a Marvel Studios e todo o seu controle criativo. O plano de comando do MCU, liderado por Feige, por mais que diga o contrário, não permite extrapolações de verdade. Seja por medo de não agradar ou por acreditarem que há limites para os tipos de produções dentro do emblema do MCU, a Marvel não dá liberdade criativa de verdade para seus realizadores. E, das poucas vezes que deu – como em Eternos (2021) -, o público mais radical destruiu as obras com críticas. E, com todo esse cenário, é claro que Thunderbolts acaba sendo castrado criativamente também.

Apesar dessas questões, o longa de fato é mais interessante do que muitos dos últimos filmes lançados nos últimos anos. Mesmo que na superfície, os dramas psicológicos dos personagens permitem que o elenco tenha uma interação positiva que entretém e enriquece as cenas com a química evidente. Intérpretes como Florence (Duna: Parte 2, de 2024) e Sebastian Stan (O Aprendiz, de 2024) ajudam a dar um fôlego a mais para a história, mesmo com todos os problemas que a rodeiam. No fim, apesar dos esforços do elenco e roteiro, ainda falta mais densidade nas camadas desses personagens e desse projeto que é guiado por personagem para que Thunderbolts fosse tudo o que podia – e se propõe narrativamente a – ser.

Jake Schreier (Cidades de Papel, de 2015) parece querer deixar a sua marca como cineasta no novo longa da Marvel, mas ele também sofre com esse controle criativo sob o cabresto. O diretor, ao lado dos roteiristas, tenta criar um pouco mais de nuances para diferenciar esse projeto dos demais. Para muitos, a missão provavelmente terá sido cumprida por fugir levemente dessa fórmula estanque do MCU. No entanto, basta um olhar mais atento e fica perceptível que ainda falta muito para que Thunderbolts alcance o potencial que poderia. Todos esses dilemas giram em torno do controle criativo que poda e afunda a Marvel cada vez mais nessa areia movediça que ela mesmo entrou.

 

Direção: Jake Schreier

Elenco: Florence Pugh, Sebastian Stan, Wyatt Russell, Olga Kurylenko, Lewis Pullman, Geraldine Viswanathan, David Harbour, Hannah John-Kamen e Julia Louis-Dreyfus

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