Blonde

Crítica: Blonde

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A história de Marilyn Monroe já foi contada diversas vezes no cinema, de diferentes formas. Desta vez, em Blonde, Ana de Armas (007 – Sem Tempo Para Morrer) assume o papel da icônica atriz, que marcou Hollywood para sempre. Aqui vemos muito da dualidade de emoções entre Norma Jeane (nome de batismo) e Marilyn, a diva que todos pensam que conhecem. Traçando um parâmetro desde a sua infância até sua morte, o espectador tem a possibilidade de conhecer mais sobre a artista, entendendo muito de seus sentimentos.

Avançamos no longa em meio ao torpor inebriante que é a cabeça emocional de Norma. E sim, aqui faremos diferenciação de Norma e Marilyn, pois Blonde deixa isso muito claro em todos os momentos: são pessoas diferentes dentro de uma mesma mulher. Enquanto Marilyn é a figura externa de diva que foi criada, que todos desejam e querem ser, Norma é a mulher doída e carente, que tem que sustentar emocionalmente toda a avalanche que a fama te impõe.

O estilo de roteiro e filmagem de Blonde não deve agradar a todos os públicos. Embora exista uma linearidade dos eventos, ele é contado sob o viés das emoções de Norma Jeane, expondo um caos interno presente em todos os momentos de sua vida, como se ela estivesse constantemente querendo gritar ao mundo quem ela é, mas ninguém está particularmente interessado em ouvir. Ela sofreu o abandono afetivo da mãe, que a culpava pela ausência do pai, que nunca conheceu.

A busca incessante pela figura do pai, inclusive, é o que acaba sujeitando Norma a tantos relacionamento complicados. A carência afetiva e a constante sensação de desamparo permeiam suas decisões, que a colocam em situações difíceis. Na figura de Marilyn, ela é subjugada como mulher o tempo inteiro, tento seu corpo sexualizado sem a sua autorização, invadido, abusado.

A criação da imagem de sex simbol em cima de Monroe é um dos aspectos que mais causa sofrimento e conflitos de emoções. As pessoas, na sua grande maioria homens, só conseguem ver bunda, seios e bocas para satisfazer as suas necessidades nefastas de ejacular. Enquanto isso, ela tem dificuldade de sustentar relações sadias, pois a busca pela família que tanto sonha parece algo absurdo e inalcançável.

Blonde

A maternidade também é um ponto delicado que o filme do diretor Andrew Dominik (O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford) transita, com a devida assertividade e cuidado. Norma sempre quis ser mãe, mas nunca conseguiu. Passou por várias gravidez que não foram adiante, seja por abortos espontâneos ou provocados. Um deles particularmente doloroso pois foi realizado para poupar a carreira de Marilyn. Algo que ela nunca superou de fato.

Quando as emoções já estavam consumindo a racionalidade de Jeane, os remédios e a bebida começaram a entrar como suas muletas. Ela precisava cada vez mais para conseguir lidar com a sua realidade depressiva, o que acabou culminando com a sua derrota ao final (no seu atestado de óbito consta que a causa foi overdose de calmantes). Algo que acaba intercalando e sendo pontuado pela loucura real e atestada da mãe, que foi internada em um centro psiquiátrico, onde passou toda a vida.

Ainda que Blonde seja um bom filme, não há como não dedicar ele 100% à presença marcante de Ana de Armas. Ela está em alma e entregue ao personagem. Idêntica fisicamente com Marilyn, ela conseguiu adotar os trejeitos, o modo de andar, de falar, de se portar. Ela está intensa da maneira mais adequada possível em todos as cenas. Aliás, é um show atrás do outro, conseguindo colocar o espectador no centro de tudo e dentro da cabeça caótica e emocional da personagem. A risco dizer que é uma grande certeza, ao menos para mim, de indicação forte ao Oscar de Melhor Atriz na próxima premiação, em 2023.

Tudo o que Norma e Marilyn queria acalmar, no final das contas, era o caos emocional dentro de si. Ela amava demais, sentia demais, se jogava de cabeça demais. Em um mundo que foi cruel e tirou muito proveito dela, o declínio psicológico era o único destino final possível. Blonde retrata isso muito bem, nos colocando dentro desta mente caótica e emocional. Um filme que vale conferir!

Direção: Andrew Dominik

Elenco: Ana de Armas, Julianne Nicholson, Bobby Cannavale, Adrien Brody, Sara Paxton, Lily Fisher, Tygh Runyan, Michael Drayer

Assista ao trailer!