7 Prisioneiros

Crítica: 7 Prisioneiros (Netflix)

Depois do sucesso internacional de Sócrates, indicado a diversas categorias no Independent Spirit Awards, o diretor Alexandre Moratto colheu feito semelhante com o drama 7 Prisioneiros, uma produção da Netflix com a O2 Filmes de Fernando Meirelles (Cidade de Deus). O longa sobre o trabalho escravo no Brasil ganhou um prêmio de melhor filme em língua estrangeira no Festival de Veneza e teve muito sucesso também em sua passagem pelo Festival de Toronto.

A repercussão foi tamanha que muitos pensaram que o longa de Moratto seria o escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga na categoria melhor longa internacional do próximo Oscar, já que, além da recepção positiva, o filme contava com uma boa base de campanha, a participação da Netflix e o envolvimento de nomes com bom trânsito em Hollywood, como o protagonista Rodrigo Santoro e o produtor Fernando Meirelles, além, claro, do próprio Moratto. O escolhido para a disputa foi Deserto Particular, de Aly Muritiba, uma eleição que, inclusive, me parece muito mais justa em termos de mérito, mas que não sei se terá a tração que 7 Prisioneiros teria em uma campanha para prêmios, mas isso é assunto para outro tipo de conteúdo.

7 Prisioneiros conta a história de Mateus, jovem interpretado por Christian Malheiros (mais uma parceria com Moratto depois de Sócrates). Ele vai trabalhar em São Paulo no ferro-velho de Luca, personagem de Rodrigo Santoro (da série Westworld). Lá ele descobre que será mantido prisioneiro junto com outros garotos e fará trabalho escravo para o administrador. É então que ele pensa em formas de sair do lugar.

7 Prisioneiros

O filme tem certa dificuldade para sair da superficialidade na abordagem do tema, tanto que a princípio 7 Prisioneiros parece reduzir a situação às tentativas de fuga do ferro-velho empreendida pelos rapazes. Além disso, o personagem de Santoro surge no começo como a pura encarnação do mal, um vilão unidimensional que existe para fazer maldades com o grupo de garotos. A falsa impressão é diluída (tardiamente) quando algumas problematizações surgem na história.

Moratto “joga” com a ética do seu protagonista. Por ter mais estudo que os outros rapazes, Mateus passa a ser uma espécie de “braço direito” do personagem de Santoro e cria uma relação dúbia com o então carrancudo vilão. O Luca de Santoro também vai se mostrando uma personagem multifaceta. Descobrimos suas origens e como ele só representa uma ponta na cadeia de opressores daquele grupo de garotos, há políticos que lucram com o trabalho escravo dos meninos e toda uma sociedade que desconhece situações como aquelas (ou não quer conhecer), mas usufrui seus produtos finais. Nesse momento, o longa apresenta lampejos de originalidade, mostrando que o problema é muito mais complexo do que julgávamos. Ao mesmo tempo, esse caminho também amortiza as ações do personagem de Santoro que é suavemente abonado pelo seu comportamento provedor com a mãe e os irmãos.

O ponto mais interessante da virada em 7 Prisioneiros é a reflexão que Moratto traz para o próprio protagonista Mateus. Quando o personagem de Christian Malheiros constrói uma relação de confiança com seu algoz, o filme faz Mateus ponderar o tipo de sujeito que ele quer ser dali em diante: ele se transformará em um novo Luca ou será um auxiliar do personagem de Santoro apenas por sobrevivência, porque foi a única maneira que encontrou de escapar daquele inferno?

Direção: Alexandre Moratto

Elenco: Cecília Homem de Mello, Christian Malheiros, Rodrigo Santoro

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