Algumas histórias precisam ser contadas, alguns temas necessitam ser pautados. O como eles serão tratados dentro de uma a narrativa é o que acaba elevando a qualidade de algo ou comprometendo negativamente a sua totalidade. País da Violência, lançamento de 2018, se encaixa neste tipo de obra. Dirigido por Sam Levinson, criador da excelente série Euphoria, é possível notar as aproximações dos dois trabalhos do artista. Ha uma ligação discursiva e estética. E os elementos que ele traz cuidadosamente no seriado novamente aparecem aqui. As luzes coloridas, a procura da aproximação com a energia e as conversas adolescente.
Está presente também a tentativa de expor a natureza humana e suas crueldades, o bullying, os segredos e o ódio exacerbado que mora em cada um. No entanto, a diferença é que agora Levinson tem menos tempo para contar o que deseja e esta ânsia de querer falar tudo que, talvez, lhe seja tão urgente sufoca o espectador e cria certo distanciamento do que acontece na tela. Durante a exibição, o que o público logo fica sabendo é que quatro amigas moram em Salém e, em algum momento, a cidade inteira irá se virar contra elas, por algum motivo que será explicado na projeção.
Para trilhar o caminho que terá como fim este conflito intenso, Levinson mostra o cotidiano das adolescentes e as suas situações de conflito, que revelam os incômodos das meninas, principalmente da protagonista Lily (Odessa Young) e de Bex (Hari Nef). Ao mesmo tempo, surge a figura de um hacker que começa a jogar nas redes os arquivos dos telefones celulares do moradores daquele local, gerando raiva e confusão entre todos.
A ideia de falar sobre a superficialidade das relações e os julgamentos da sociedade poderia funcionar, assim como ocorre em diversas produções, inclusive no próprio seriado de Levinson. Ainda que a ideia não seja criativa, ela traz consigo questões sociais e da contemporaneidade que têm a capacidade de render bons debates e, inclusive, fortaleceria os acontecimentos de seu desfecho, criando uma progressão. Contudo, não é isto que acontece. As personagens e os os atritos delas são jogados de qualquer jeito. As situações são postas antes que se possa entender as motivações daquelas pessoas ou até mesmo quem são elas, de onde vieram ou qualquer tipo de informação e/ou sensação que conecte quem assiste com a trama.
A dinâmica do elenco também não contribui tanto para este estabelecimento de empatia. Separadamente, Young e Nef ainda conseguem apresentar interpretações convincentes e com um pouco de profundidade. O ponto essencial é a forma como elas se relacionam com a câmera, que é quase como se elas conversassem com ela. Mas, a contracena não rende muito. Parece que todo elenco atua um tanto sozinho, sem grandes trocas. Por fim, para completar os equívocos da produção existe o uso exagerado de slow motion. Em diversos momentos, frases de efeito com corpos femininos dançantes anunciam que alguma coisa impactante está para acontecer, porém existe uma demora para que a ação ocorra de fato e isso se dá justamente porque uma extensa sequência em slow se faz presente.
Ainda assim, momentos de triunfo podem fazer o espectador ponderar se gostou ou não da sessão. Um dos pontos altos é um plano longo que acompanha as quatro jovens que andam pela casa de uma delas para saber se está tudo bem. O estabelecimento da tensão e a forma como a câmera acompanha as ações surtem efeito e a sensação de medo é instalada. Enquanto se vê as ações de fora para dentro da residência, a impressão de que elas estão cercadas é forte e isso vem justamente pela maneira como as movimentações foram filmadas. Assim, no final das contas, o resultado é majoritariamente negativo, mas pode valer a pena pelos seus momentos bons, porque são verdadeiramente bem realizados.
Direção: Sam Levinson
Elenco: Odessa Young, Suki Waterhouse, Hari Nef, Abra
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