Algo que aparece constantemente na filmografia de Blake Edwards (Bonequinha de Luxo) são mocinhas que vivenciam diversos momentos piegas, que aparentam ser fortes, mas tendem a ficar um tanto mais suaves quando se apaixonam. No meio de tudo isto, é possível que um contexto social e/ou político seja colocado como um pano de fundo. Em Lili, Minha Adorável Espiã é exatamente isto que ocorre.
A protagonista, vivida por Julie Andrews (A Noviça Rebelde), é uma artista extremamente renomada, mas também trabalha de forma secreta para os alemãs, durante a Primeira Guerra Mundial. No entanto, ela se encanta pelo Major William (Rock Hudson, Volta Meu Amor). Obviamente, Lili Smith passa por conflitos internos sobre a continuidade de seus planos, pois o Major é estadunidense e ela precisa agir contra ele se quiser ser bem sucedida em sua causa, mesmo que esteja amando ele cada vez mais.
No entanto, essa angústia dela não é passada da melhor maneira, muito menos a criação da afeição da personagem com o seu par. Apesar do roteiro colocar diversas situações nas quais os casais interagem, a escolha por fazer passagens em que a câmera acompanha passeios e dates da dupla, mas não se escuta o que estão dizendo enfraquece o estabelecimento da empatia e a vontade de torcer por eles. Soa um tanto repentino o surgimento de um sentimento tão profundo e as ações de Lili se tornam bruscas, o que enfraquecem a sua força.
Ao final da projeção, a sensação é de que tudo é um tanto forçado. E isto piora porque o desfecho é indeciso e sem coragem, inserindo minutos a mais para que o final feliz seja colocado. O que incomoda é que em uma projeção de 2h15, há falta de progressão nas personagens, que são continuadamente planificadas nos seus desejos. O tempo gasto na tela acaba sendo mal aproveitado, deixando sobras em algumas partes – como as incessantes sequências de voos de William – e em outras faltasse um gancho, uma conexão entre o ship principal e até uma linha narrativa firme que fizesse o público saber que história Edwards, juntamente com seu parceiro de escrita William Peter Blatty (O Exorcista), gostaria de contar.
Apesar de não conseguir alcançar a realização de uma trama amarrada e coesa, a obra não deixa de entregar alguns elementos positivos. Os números musicais performados por Andrews são divertidos e empolgantes. Este ganho parece vir de uma combinação da boa interpretação de Julie Andrews combinada com a decupagem das cenas. O ápice destes elementos podem ser vistos no número de abertura e em I’ll give you three guesses.
Os movimentos de câmera e enquadramento, mesclados com a consciência espacial de cena de Andrews formam momentos animados do longa. Além disso, Lili é uma faceta um tanto distinta do que alguns podem estar acostumados em ver a atriz fazer. Existe um desprendimento da intérprete, uma força e uma acidez que podem surpreender. No geral, Lili, Minha Adorável Espiã não é de todo mal e pode ser uma boa pedida para quem gosta demasiadamente de musicais e/ou da Julie. Contudo, a produção pesa na hora de contar as histórias adjacentes e esquece de cuidar do foco principal.
Direção: Blake Edwards
Elenco: Julie Andrews, Rock Hudson, Jeremy Kemp, Bernard Kay, Doreen Keogh, Carl Duering, Vernon Dobtcheff
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