Constantemente bombardeada durante a rebelião síria, Aleppo é uma cidade fantasma. Ruas vazias, construções implodidas ou quase destruídas e pessoas feridas em busca de socorro são constantes nesse cenário. Em meio a esse caos, a jornalista e cineasta síria Waad Al-Kateab registra o trabalho do seu marido, um médico responsável por uma equipe que socorre vítimas da violência. Waad também usa sua câmera para refletir sobre a criação da sua filha Sama enquanto sonha com uma Síria livre.
O documentário For Sama, um dos títulos indicados na última edição do Oscar, consegue dimensionar todo o horror dessa situação a partir de uma aproximação íntima com os sujeitos que são vítimas dela. Um recurso extremamente simples, mas totalmente eficaz que Waad põe em prática através de imagens que registram situações cortantes como a tentativa de reanimar um recém-nascido cuja mãe acabara de ser atingida, o desespero de duas crianças ao receber a notícia dos médicos de que seu irmão acabara de falecer ou, de maneira ainda mais pessoal, as angústias da cineasta como mãe de uma bebê que testemunha toda essa sociedade em ruína.
Como registro, For Sama é um filme bastante eficaz. O longa tem a força emotiva de um testemunho histórico que evita qualquer sensacionalismo. As imagens do documentário chocam pela maneira seca com a qual exibe a angústia cotidiana que toma conta dos cidadãos de Aleppo que chegam ao hospital do esposo de Waad. Há momentos, como os já citados, de completa suspensão do fôlego do espectador.
Como narrativa, For Sama exibe um leve anticlímax em minutos finais que, deveriam, mas não conseguem superar a força das imagens que os precederam. Ainda assim, na maior parte do tempo Waad consegue delinear de maneira fluida seu diário de sobrevivência na Síria contemporânea fazendo do seu filme um testemunho atemporal de como os atos de uns poucos homens no poder são capazes de trazer como resultado cenas que exibem a crueldade na sua forma mais bruta.
Direção: Waad Al-Kateab, Edward Watts
Assista ao trailer!