Mais um livro da aclamada escritora Agatha Christie chega aos cinemas prometendo deixar os fãs de mistério em polvorosa. O remake Morte no Nilo (o primeiro foi em 1978) traz um elenco de peso para contar a história de uma rica herdeira que é morta no cruzeiro de sua lua de mel, onde foi com a família. Claro que o grande detetive Hercule Poirot pega o caso para desvendar responsável pelo assassinato frio e vil da bonita jovem.
Gal Gadot (Mulher-Maravilha) faz o papel principal de Linnet Ridgeway. Logo no início da exibição ela rouba o então noivo da melhor amiga, vivida por Emma Mackey (Sex Education). Já começamos aí com um grande motivo para desconfiar da moça, já que ela fica visivelmente transtornada com a rasteira que levou. Paralelo a isso, conhecemos um pouco mais da história de Poirot, interpretado mais uma vez pelo próprio diretor do filme, Kenneth Branagh (Belfast).
Branagh acerta nas duas funções, ao tomar decisões inteligentes com relação a condução da direção e ao humanizar mais o detetive. Ainda que ele mantenha aquele ar de invencibilidade nato de Poirot, conseguimos ver mais camadas, como um sofrimento constante dentro de si por amores não vividos o suficiente.
Temos a oportunidade aqui de ver Russel Brand no papel de uma pessoa normal. É chocante vê-lo de cabelo cortado e barba feita, como um ser humano comum. E ele o faz muito bem e de maneira convincente, mostrando seu potencial como ator. Ele interpreta o papel do antigo amor de Linnet, que amargura o término até hoje, tornando-o mais um forte suspeito.
Aliás, como é um clássico de Christie, todos se tornam suspeitos em algum momento. As motivações vão aparecendo aos poucos e se revelando para o detetive. Morte no Nilo poderia, porém, ter dedicado mais tempo à parte da investigação e menos tempo a construção daquele cenário como um todo. Embora seja importante acompanhar a conexão dos personagens e como eles vão parar no cruzeiro, quando chegamos na morte em si, metade do filme já passou e o restante é muito corrido.
O roteiro poderia, por exemplo, ser um pouco menos caótico na parte em que os mistérios são investigados. Mais conexão entre os fios tornariam as coisas mais tensas para o espectador, assim como um estilo de filmagem menos confuso. É sabido que essa é uma estratégia de tornar a situação mais excitante, mas, neste caso, o tiro saiu pela culatra, já que acabou prejudicando o ritmo da projeção.
A edição do filme foi sábia ao não explorar demais a figura de Armie Hammer (Me Chame Pelo Seu Nome), principalmente depois dos escândalos de estupro e canibalismo envolvendo o nome dele. O mesmo vale para o marketing quase inexistente em cima da figura de Letitia Wright (Pantera Negra), depois que ela se mostrou antivacina e está atrasando até hoje as gravações de Pantera Negra 2. Se você não tem mais como cortar as pessoas dos filmes, ao menos não dê tanto ibope para elas. E foi isso que foi feito aqui.
Morte no Nilo é um longa de mistério eficiente e até melhor que Assassinato no Expresso do Oriente, que tinha muito mais falhas. Porém ficamos com a sensação de que falta algo e acredito que seria um pouco mais de tensão para o espectador. Falta ansiedade e agonia no filme. Ainda assim, vale muito a pena conferir no cinema.
Direção: Kenneth Branagh
Elenco: Kenneth Branagh, Gal Gadot, Emma Mackey, Armie Hammer, Annette Bening, Tom Bateman, Rose Leslie, Sophie Okonedo, Letitia Wright, Russell Brand
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