Meu Sangue Ferve por Você

Crítica: Meu Sangue Ferve por Você

1.5

Teu, todo teu

Minha, toda minha

Juntos, essa noite

Quero te dar todo meu amor*

Conhecido por suas canções intensas e apaixonadas, Sidney Magal, o maior amante latino do Brasil, ganha uma cinebiografia, que vibra no tom de sua personalidade. Ainda que Meu Sangue Ferve por Você, o longa-metragem de Paulo Machline (Trinta), não seja dos melhores, a energia do romance, do brega, de amores infinitos – possíveis ou impossíveis –, das dores de corno, das lamentações e alegrias das paixões das canções de Magal estão todas ali, impressas no ecrã.

Através de um musical que narra como Magal (Felipe Bragança) conheceu, apaixonou-se e começou um relacionamento com a sua atual esposa, Magali West (Giovana Cordeiro), a produção transforma o casal em uma dupla de mocinhos alegres, que dançam e cantam, pelas ruas de Salvador. Sim, estamos falando de um musical (mais um acerto da obra), passado em terras soteropolitanas!

Apesar de alguns sotaques sofríveis (até mesmo quem é baiano dá aquela forçada), a exploração da geografia da cidade acontece de forma eloquente, algo que deveria ser óbvio, mas que é geralmente deturpado no audiovisual nacional. Neste lógica, as dinâmicas de contracena do elenco, junto com a química do par romântico central, ajudam a construir um senso de empatia e torcida para as personagens.

Toda, minha vida (sim)

Eu, te procurei (nanananana)

Hoje, sou feliz

Com você que é tudo o que sonhei…

Também é preciso reconhecer o esforço de Felipe Bragança e Caco Ciocler, que fazem Magal e seu agente, respectivamente. Com uma escrita tão farsesca e exagerada, o seus papéis corriam o (sério) risco de beirarem ao ridículo, o que não ocorre aqui. Por estas razões que, majoritariamente, a sessão é divertida. No entanto, os tropeços são maiores que os acertos.

Não tem trabalho de ator talentoso e consciente da criação de gênese e relação de personagem que salve execuções ruins da técnica. O roteiro é básico, aposta não apenas em uma narrativa clássica, como em clichês de filmes de romance, alguns diálogos expositivos, um desenvolvimento que não explora camada das personagens, todos são arquétipos rasos e a trama é completamente previsível. Aí, o leitor pode pensar: e os números musicais, Enoe?

Meu Sangue Ferve por Você

Bom, depois de uns 10 segundos de iniciados, eles ficam bons, porém acabam, imediatamente quando isso ocorre. Sim, é abrupto. Nem o início e nem o final das canções possuem coesão visual, textual – verbal ou não – com a história. A montagem também não colabora – bem, talvez não houvesse um bom ponto de corte, mas só é possível julgar o resultado, não é mesmo? O impacto destas interrupções desconectam e cansam o público, tanto no início quanto no final das canções.

Ah, eu te amo

Ah, eu te amo meu amor

Ah, eu te amo

E o meu sangue ferve por você

 

Além disso, a mise-en-scéne (coitada) é completamente confusa. De certo havia um frisson da equipe que, contaminados pelo espírito do ritmo “magalzesco”, se deixou levar por uma intuição falha – ou é o que esta que vos escreve prefere acreditar -, pois a aceleração é confundida com ritmo. Além disso, direção e direção de coreografia se equivocam, deixando espaços abertos, criando uma sensação de pouco ensaio, falta de noção espacial e de enquadramento.

Esse último elemento citado é o pior de todos. Distribuição de elenco e objetos de cena é criação artística 101! Seja no teatro amador ou profissional, no cinema experimental, hollywoodiano, indie ou de guerrilha, não importa… A construção estética e imagética das cenas (ou sequências) precisa funcionar!!!! E o que isto quer dizer? É preciso que exista uma concepção de direção (de todas elas, geral, de fotografia, de arte etc), que pense em como serão as ações de atores, colocação de câmera, distribuição de material cênico nos espaço, entre outros.

Meu sangue ferve por você parece traduzir o real significado de furdunço para tela. O que seria compreensível, pensando nesta atmosfera caótica de comédia romântica musical, que a equipe parece querer convocar. Mas, na arte, meus caros, o furdunço tem que ser organizado, porque cinema (teatro, dança e assim por diante) não é bagunça. É por isso que a exibição se torna frustrante. Falta know-how, tempo ou talento para criar um bom resultado.

Porque quando a plateia vai ao cinema ver uma farofinha romântica, ela quer se divertir. Não é preciso que uma obra se leve muito a sério ou que traga o roteiro mais inventivo do mundo. Mas, se vão fazer o básico, que façam com cuidado, respeito e dignidade, ainda mais se for uma obra nacional com recursos financeiros mais avantajados do que o de costume.

*Utilizamos trechos da canção Meu Sangue Ferve por Você, de Sidney Magal.

Direção: Paulo Machline

Elenco: Felipe Bragança, Giovana Cordeiro, Caco Ciocler

Assista ao trailer!