Conseguindo imprimir uma velocidade frenética, com o uso intenso de câmera lenta para ações ágeis, que dão a impressão de que os fatos estão aumentados, Eu Me Importo estabelece seu tom desde os seus primeiros minutos de exibição. Pautado na ironia e no humor ácido, as peripécias de suas personagens se estendem a cada ato e os limites dos acontecimentos parecem não existir dentro da narrativa. No entanto, falta algum equilíbrio rítmico, a noção de onde o enredo quer chegar e, principalmente, consciência do instante certo de terminar a história.
Dirigido e roteirizado por J Blakeson (A 5ª Onda), o filme, por um lado, consegue criar uma suspensão, com plot twists e um jogo de gato e rato entre a protagonista, Marla Grayson (Rosamund Pike, Garota Exemplar), e o antagonista, Roman Lunyov (Peter Dinklage, Game of Thrones). Estas estratégias podem prender o espectador, mas, do outro, as constantes reviravoltas, o pouco tempo de desenvolvimento das personagens, a ausência de respiros e os artifícios da trilha – que dita o tom com seu tecno de dinâmica desenfreada-, e algumas cenas soltas. Um exemplo desta frouxidão são as diversas sequências de Marla fazendo exercício, que não contribuem para a trama, mas devem ter ficado por dar uma vibe cool para a produção, com luzes coloridas piscando e bastante slow motion.
Estas características tornam Eu Me Importo enfadonho, em algumas partes, principalmente quando ele chega em sua metade e parece não caminhar para lugar algum. Além disso, existe uma sensação de que a obra se divide em duas. Até o início do terceiro ato, veem-se todos estes elementos visuais e sonoros já citados (slow, tecno, luzes coloridas) e a premissa principal sendo vivenciada: a do trabalho de Marla, as audiências que ela precisa ir, o embate com sua nova “cliente”, Jennifer – uma Dianne Wiest coesa, mas que não terá tanto espaço nesta crítica, pois sua personagem é deixada de lado por Blakeson abruptamente. Em seguida, toda a atmosfera construída se esvai.
Primeiro, a estética fica um tanto mais crua, temperaturas e movimentações de câmera são mais neutros. Segundo, o público é sufocado de reviravoltas até o derradeiro segundo de exibição e se antes o desenvolver do enredo parecia frágil, ele desaparece. Chega até a ser cômico a quantidade de momentos que parecem o final, sem que a projeção termine enfim. Para piorar este incômodo, J Blakeson selecionou uma finalização covarde, cheia de moral e punição. A cereja do bolo vem do fato de Marla, que tem uma namorada, entrar para a lista de mulheres não heterossexuais da ficção que possuem um desfecho trágico. É uma junção infeliz de fatores!
O que retira um pouco do sabor amargo de Eu Me Importo é lembrar da interpretação de Rosamund Pike. Pensando nos detalhes de sua construção, Pike mede cada respiração, pausa e olhar direcionado para seus colegas de cena. Corporalmente, ela traz um tônus para sua Marla e um andar retilíneo, típico de uma pessoa controladora. Para evocar movimentos mais circulares e mostrar certa fragilidade há o uso do vaporizador. Este objeto revela as suas ansiedades e inquietações, deixando Marla mais humana e menos plana.
No geral, a obra possui um potencial. A sua concepção traz aspectos positivos, um zelo imagético e uma aparente busca por uma elaboração de universo ficcional cuidadosa. Ainda que falhe na regularidade rítmica e narrativa, vale ver por apresentar sequências emocionantes e ser majoritariamente divertido.
Direção: J Blakeson
Elenco: Rosamund Pike, Peter Dinklage, Eiza Gonzalez, Dianne Wiest, Chris Messina
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