Mais recente longa de Roman Polanski, Baseado em Fatos Reais foi o filme de encerramento da última edição do Festival de Cannes e exibe o seu cultuado realizador em estado de apatia. Dentre os mais recentes longas do diretor, provavelmente este é um dos menos interessantes. O mais incrível de tudo isso é saber que o filme é um suspense, território que o cineasta desde sempre exibiu grande domínio, e tem um roteiro assinado não apenas por Polanski como também por Olivier Assayas, contando ainda com atrizes do calibre de Eva Green e Emmanuelle Seigner no elenco.
No título, Seigner interpreta uma famosa escritora de romances chamada Delphine Dayrieux. A personagem passa a estabelecer um estreito relacionamento com Elle, interpretada por Eva Green, uma jovem escritora que demonstra ser fã do trabalho de Dayrieux. Logo Elle começa a ajudar Delphine a passar por um momento difícil da sua vida, quando a mesma começa a receber mensagens anônimas e é difamada em redes sociais com textos que relatam eventos do passado da escritora.
Ao se filiar a um gênero, Baseado em Fatos Reais traz para si a obrigação de preencher determinados requisitos, exibindo um bom manejo de elementos que fariam o filme alcançar seus intencionados objetivos. Ao menos, é isso que se espera. Polanski, no entanto, cria uma história sem momentos de tensão genuíno que cairiam muito bem ao título. Ainda que sugira aqui e ali uma atmosfera de incertezas, o grande problema do longa é que ele não sustenta, por exemplo, o mistério em torno da identidade da personagem de Eva Green, tornando sua revelação no terceiro ato completamente indiferente para o público, que, possivelmente, encontrará a resposta para tudo em longas com tramas similares.
Baseado em Fatos Reais parece querer tratar de uma obsessão antiga do realizador com o processo de criação na literatura (O Escritor Fantasma de 2010) e o que o próprio acaba demandando daquele que inescapavelmente está mergulhado na linha tênue entre fantasia e loucura. No entanto, parece um longa marcado pelo lugar comum dos caminhos que sua história percorre e nas escolhas que seu cineasta faz ao longo do processo. Nem mesmo a escalação de duas ótimas atrizes para os papéis centrais inspiram momentos marcantes para suas interpretações (a escolha de Green para interpretar a ‘psicótica’ Elle, por exemplo, é de uma obviedade latente). Não dá muito gosto de ver um diretor tão habituado ao gênero se perder em meio às generalidades de um filme como este.
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