Entre idas e vindas de duas histórias que parecem querer se encontrar, Cemitério das Almas Perdidas peca por ser um filme de terror que não estabelece clima de tensão e pela indecisão de que trama deseja contar. Primeiramente, o público vê uma sequência bem típica do gênero, na qual se mostra os poderes de um objeto que possui poderes mágicos. Logo em seguida, há a apresentação do suposto protagonista, Jorge (Diego Garcias), e da trupe de circenses que trabalha com ele. Depois, ainda chega a trama de Aiyra (Allana Lopes), indígena que tem seu povo dizimado pelos brancos europeus.
A questão principal não é a quantidade de plots em si, pois eles poderiam ficar bem amarrados quando se encontrassem. O problema central desta obra é que ela demonstra incerteza do que se quer tratar ali. As personagens do circo, por exemplo, começam a ser trabalhadas e esta criação de vínculo com aquelas figuras é interrompida. A presença deles também fica frouxa no enredo, já que saem da narrativa sem terem sido exploradas. Outro fato que contribui para o desconforto durante a projeção são os diálogos.
Quase todas as falas são expositivas. Este é um dos elementos mais fortes para a perda da criação de suspensão. São tantas ações reiteradas pelo discurso que o tédio se instala. O espaço para a criação de ritmo desaparece, porque entre o redemoinho criado para contar a história que vai e vem e os textos que repetem o que já foi entendido, a atmosfera de terror se esvai. Além disso, o elenco não consegue segurar as palavras que proferem. Dois motivos podem explicar isto: o roteiro mal elaborado e uma direção de atores fraca. Os intérpretes não jogam em cena, não parecem compreender o que é fé cênica e vomitam as frases como se estivessem em algum outro lugar que não em uma produção cinematográfica. Talvez, em um palanque.
Pode-se também apontar uma angústia causada pelo longo tempo de tela no qual os europeus estão majoritariamente vencendo as batalhas e o sangue das personagens não brancas jorram na tela a todo instante. A ânsia pela reviravolta é uma sensação costumeira em filmes, principalmente no cinema de terror, mas, aqui, existe uma questão histórica que causa certo desconforto. Esse amargor aumenta ainda mais com o desfecho da obra, que ainda deixa estes corpos presos, sem uma escapatória em vida. Apesar de todo o contexto negativo, há um destaque positivo em Cemitério das Almas Perdidas. As cenas de ação são bem executadas. A direção de Rodrigo Aragão (Mangue Negro) brilha ao trazer enquadramentos e movimentos de câmera que acentuam o tom de medo e perigo.
Direção: Rodrigo Aragão
Elenco: Diego Garcias, Allana Lopes, Renato Chocair
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