Em uma espécie de labirinto quase infinito, Crime Culposo busca, através de suas estratégias narrativas, apresentar um discurso político e ideológico. Desta forma, o longa-metragem se vale de repetições de suas sequências para tentar se aprofundar e avaliar uma tragédia ocorrida no Irã, no final da década de 1970. Durante a sessão de The Deer, de Masoud Kimiai, quatro homens incendiaram um cinema, deixando um grande número de mortos. Após este fato, a Revolução Iraniana se iniciou.
É na busca por mostrar todo este contexto e deixar nítidas as tensões presentes ali, que há certo estabelecimento de tensão. A suspensão de não saber quando, de fato, ocorrerá o incêndio, pode deixar o público conectado com a obra. Pelo menos, até a sua metade. Isto porque o ciclo vicioso revelado no longa, ainda que com ângulos e enquadramentos diferentes nas reincidências, começa a ficar cansativo. A partir do segundo ato, a obra já deixou exposto todo o cenário que deseja.
Tanto o fato do cinema ter questões precárias de organização – como a usura do dono, que coloca cadeiras a mais e deixa a saída de emergência presa porque precisa de espaço para os produtos alimentares que serão vendidos –, como a atrapalhação do quarteto que não consegue executar seu plano efetivamente, os retornos para estes dados não produzem novas informações. Isto acaba por montar um reforço vazio.
Toda esta lógica cíclica é, em sua concepção, uma ideia válida. No entanto, a execução é um tanto falha. Além de a dinâmica começar a ficar cansativa, a partir de 1/3 de projeção, o enredo não avança. As voltas para cenas idênticas não apresentam novos rumos ou reflexões. Talvez, traga apenas um olhar incisivo para os quatros incendiários, porém nem mesmo eles ganham outros contornos. Não há uma construção de camadas das personagens, nem motivações não são exploradas.
Mais preocupante ainda é pensar que se o intuito era debater a situação do Irã naquele período e as consequências deste ataque, isto não foi realizado concretamente. O que há aqui é uma jogada de informações superficiais, nas quais nem algozes e nem vítimas são vistos em todas as suas potencialidades. Para além disso, vale ressaltar que a decupagem vai se tornando perdida, por assim dizer.
É como se o diretor Shahram Mokri (Invasion) focasse tanto no efeito estético e sensorial que quer causar, principalmente no que tange surpreender os consumidores, que ele não pensa no que a trama pede. Alguns movimentos de câmera ou enquadramentos deixam de lado expressões faciais ou gestos dos atores, por exemplo, esvaziando cada vez mais os sentidos da produção.
Desta maneira,Crime Culposo precisa se sustentar tão somente na sua sacada de convocar idas e vindas da história. O que no começo é uma escolha instigante, vai se desgastando, se decompondo diante dos olhos do espectador. O que é uma pena, pois a temática é extremamente relevante e o filme traz consigo um potencial criativo desperdiçado.
Direção: Shahram Mokri
Elenco: Babak Karimi, Razie Mansori, Abolfazl Kahani
Assista ao trailer!