A Queda do Céu

XX Panorama Internacional Coisa de Cinema: A Queda do Céu

2.5

O novo documentário de Eryk Rocha (Cinema Novo) e Gabriela Carneiro da Cunha é inspirado na obra homônima do xamã Yanomami Davi Kopenawa. Em termos gerais, o longa-metragem soa como uma espécie de encantamento – ou seria uma maldição?- , uma resposta para nós brancos. Neste sentido, a produção brilha. No entanto, a sua discussão e a sua intenção não sustentam a sessão.

A produção desafia o desejo de acompanhá-la, a começar pelo desenho de som do longa. Só existe um instante de silêncio. De resto, os ruídos são incessantes. Por mais que seja intencional causar o impacto através desta sonoridade contínua, o efeito se esvai. Recursos repetidos no audiovisual, sem progressão ou respiros, tendem a ser cansativos.

E é isso que ocorre aqui. A produção quer deixar o espectador desconfortável, mas essa escolha sempre é perigosa, porque o interlocutor precisa querer ouvir, querer prestar atenção. Todavia, já na metade da exibição, a atenção cai consideravelmente, por este motivo. Sobretudo porque estes sons, majoritariamente, aparecem mais como uma ambientação do que uma construção extra de sentidos.

A Queda do Céu

Desta forma, o barulho de trovoada, quando o xamã faz o seu monólogo, já no terceiro ato do filme, funciona e opera como instalador do clímax. Já as constantes sequências com choro de criança e conversas aleatórias ao fundo, não. E o mesmo pode ser dito do visual do longa.

Quando a decupagem foca na encenação, com a câmera fixa, enquanto as personagens falam paradas ou andam, é possível criar uma conexão com a narrativa. Mas, Rocha e Cunha exageram na câmera na mão e as andanças pelas florestas deixam a projeção exaustiva. O chacoalhar recorrente da tela, desconecta o público da fruição. Além disso, no que se refere à iluminação, sequências que contam com diálogos emotivos e profundos são comprometidas porque não é possível enxergar os rostos das personagens.

São nestes elementos que a ligação com a obra vai se esvaindo e resta a sensação de que o doc tem o dobro de tempo. Desta forma, A queda do céu tem um conteúdo profundo e urgente, porém que não é transmitido em toda sua grandiosidade, não faz jus ao que está sendo proferido no ecrã. 

Direção: Gabriela Carneiro da Cunha, Eryk Rocha

Acesse nossas notícias de Festivais clicando aqui!